Uma equipa de investigadores da Universidade de Columbia (Nova Iorque) conseguiu isolar no cérebro de ratos os neurónios envolvidos no processo de saciedade ao comer, o que pode levar a novos tratamentos para a obesidade.
Os neurónios responsáveis pela saciedade foram identificados no tronco cerebral do rato, a parte mais antiga do cérebro dos vertebrados, e os autores defendem que são comuns ao cérebro humano. A descoberta foi descrita quarta-feira na revista científica Cell.
Cada vez que comemos, chega um momento em que começamos a sentir-nos satisfeitos e não queremos comer mais. Os cientistas questionam-se como é que o cérebro sabe quando comemos o suficiente e precisamos de parar.
Investigadores da Universidade de Columbia utilizaram técnicas de perfil molecular em células estaminais cerebrais para estudar as suas funções.
Ao traçar o perfil molecular de células de uma região do tronco cerebral conhecida por processar sinais complexos, os cientistas detetaram células até então não reconhecidas que apresentavam características semelhantes a outros neurónios envolvidos na regulação do apetite.
Para ver como os neurónios influenciavam a alimentação, os investigadores modificaram-nos para que pudessem ser ativados e desativados pela luz.
Quando os neurónios foram ativados pela luz, os ratos comeram quantidades muito mais pequenas. Ao mesmo tempo, a intensidade da ativação determinou a rapidez com que os animais deixaram de comer.
Os autores analisaram também como outros circuitos alimentares e hormonas afetavam os neurónios e descobriram que os neurónios eram silenciados por uma hormona que aumenta o apetite e ativados por um agonista do GLP-1, utilizado em medicamentos como o Ozempic para tratar a obesidade e a diabetes.
Estas experiências mostraram que estes neurónios "conseguem cheirar a comida, vê-la, senti-la na boca e no intestino, e interpretar todas as hormonas intestinais que são libertadas em resposta à alimentação. Depois, usam toda esta informação para decidir quando parar de comer", frisou Alexander Nectow, investigador médico da Universidade de Colúmbia e um dos autores da investigação.
Embora tenham sido encontrados neurónios especializados em ratos, Nectow sublinhou que a sua localização no tronco cerebral, uma parte do cérebro que é essencialmente a mesma em todos os vertebrados, sugere que os humanos têm uma grande probabilidade de ter os mesmos neurónios.
"Acreditamos que abrimos uma nova porta para compreender melhor a saciedade, como ocorre e como é utilizada para terminar uma refeição. Esperamos que um dia possa ser utilizada em terapias para a obesidade", concluiu o investigador, citado numa nota da Universidade de Columbia.