"Os problemas [da educação] são os mesmos. Estamos a falar para as mesmas pessoas, os surdos, vimos a falar para eles [os governantes] há mais de cinco anos, mas não vamos ficar cansados, continuamos preocupados com o número crescente de crianças fora do sistema de ensino", disse hoje o presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira.

Falando em conferência de imprensa sobre os problemas e desafios do setor da educação em Angola, o responsável lamentou que existam no país "mais de 9 milhões de crianças" sem acesso à educação e escolas sem carteiras, quando dirigentes "exibem viaturas de alta cilindrada".

Para Francisco Teixeira, "não se justifica que, em pleno século XXI, em Angola, país rico de recursos naturais", ainda existam crianças que assistem às aulas sem manuais escolares e outras sentadas no chão, por falta de carteiras.

"Estamos a falar também da falta de livros, material didático. Até agora o Estado não consegue dar explicações onde foram parar os dinheiros dos livros. O ano passado o Estado gastou 5 milhões de dólares para livros e este ano o mesmo valor, mas os indivíduos desviaram os livros e ninguém consegue explicar", criticou.

"Uma Educação Livre da Opressão Política" foi o lema da conferência de imprensa, que decorreu em Luanda.

O presidente do MEA considerou que a educação "continua refém dos políticos" e, por isso, "sem qualquer progressão".

"[A educação em Angola] continua sem progressão, porque uma boa parte dos governantes entende que as pessoas têm de continuar analfabetas para eles continuarem a escravizar, a humilhar e a pisotear e [é] isso que nós não queremos", disse.

Teixeira criticou igualmente o "silêncio" das autoridades face ao clamor da comunidade estudantil, que se arrasta ano após ano, garantindo, no entanto, que o MEA vai continuar a fazer ecoar a sua voz: "Até que os surdos nos ouçam, até que os mudos comecem a falar connosco".

Afirmou ainda que o "silêncio" de que acusam as autoridades angolanas é fruto da "arrogância, falta de compromisso e de patriotismo" por parte destas, que adquirem "viaturas de milhões de kwanzas" quando escolas públicas não têm carteiras e manuais de ensino.

"É maldade, é má-fé desse Governo que não investe na educação, mas vamos continuar a pressionar para que se dê atenção à educação", concluiu Francisco Teixeira.

DAS // MLL

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