
"Temos de ter a certeza de que todos nós damos o mesmo conteúdo, o mesmo significado, à palavra paz. Insisto, uma paz justa e duradoura é uma coisa, um cessar-fogo que se torna crónico é outra, o que seria extremamente perigoso para a segurança europeia", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha (MNE), José Manuel Albares.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, foi um dos líderes europeus que esteve no domingo em Londres, numa cimeira sobre a Ucrânia organizada pelo líder do Governo britânico, Keir Starmer.
Sánchez não fez declarações após o encontro de Londres e não comentou a proposta de plano de paz anunciado por Starmer.
Num comunicado, o Governo espanhol disse apenas, no domingo à noite, que "Espanha continuará a ser parte ativa das conversações com o objetivo de encontrar, o mais depressa possível, uma via para a paz" na Ucrânia.
Numa entrevista hoje à Rádio Nacional de Espanha (RNE), o MNE Jose Manuel Albares defendeu serem necessários três passos neste momento, sendo o primeiro "fazer a paz" e "ter a certeza" de que não se está a falar num mero "cessar-fogo que se torna crónico".
"Em segundo lugar, temos de decidir quais são as garantias para que essa paz seja uma paz real, uma paz justa e duradoura, uma paz definitiva, uma paz que respeita a Carta das Nações Unidas. E, em terceiro lugar - e esse momento chegará se conseguimos uma paz justa e duradoura -, ver quais são os instrumentos, as ferramentas, para a garantir", acrescentou.
Neste contexto, Albares voltou a dizer que para Espanha é prematuro falar no envio de tropas para a Ucrânia, porque é preciso primeiro conhecer os termos de um eventual acordo de paz e que mandato teriam as forças militares internacionais no terreno.
O ministro realçou que Espanha não descarta o envio de tropas, sublinhando que há milhares de militares espanhóis em missões da NATO e da ONU em diversos partes do mundo.
"Não é um problema de envio de tropas ou não envio de tropas. É um problema, neste momento, político-diplomático. É neste momento que estamos, de nos assegurarmos o que é aquilo a que chamamos paz", afirmou.
A França e o Reino Unido propõem uma trégua de um mês na Ucrânia "no ar, nos mares e nas infraestruturas energéticas", divulgou o Presidente francês, Emmanuel Macron, ao jornal Le Figaro no domingo à noite, após a reunião de Londres, em que também participou.
Antes da cimeira, Keir Starmer tinha anunciado que Paris e Londres estavam a trabalhar num "plano" para pôr fim ao conflito entre russos e ucranianos, que já completou três anos.
A vantagem de uma trégua é que "sabemos como medi-la", apesar de a frente ser imensa, "o equivalente à linha Paris-Budapeste", afirmou o líder francês.
A suspensão das hostilidades não afetaria inicialmente os combates no terreno, uma vez que "no caso de um cessar-fogo, seria muito difícil verificar se a linha da frente estava a ser respeitada", explicou.
A possibilidade de enviar tropas europeias, já colocada por Paris e Londres, só surgiria numa segunda fase, acrescentou Macron, garantindo que não haverá militares europeus em solo ucraniano "nas próximas semanas".
"A questão é saber como utilizar este tempo para tentar obter uma trégua acessível, com negociações que demorarão várias semanas e depois, uma vez assinada a paz, um destacamento", acrescentou.
"Queremos a paz. Não a queremos a qualquer preço, sem garantias", resumiu.
Paris e Londres estão a tentar obter uma rede de segurança norte-americana para quaisquer tropas que possam ser enviadas para a Ucrânia após um acordo de paz, através de garantias de segurança para Kiev, mas querem que os Estados Unidos forneçam alguma forma de proteção a essas tropas, caso sejam alvo de forças russas.
De acordo com as autoridades francesas, Paris e Londres estão também a tentar renovar as linhas de diálogo entre os presidentes dos EUA e da Ucrânia, Donald Trump e Volodymyr Zelensky, respetivamente, depois do confronto verbal na Sala Oval da Casa Branca na sexta-feira.
"Nos próximos dias, deveremos poder retomar o processo", antecipou Macron.
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