Localizado em Lisboa, no bairro de Alfama, o nome do museu transmite a essência do local. Uma viagem até ao fim do século XIX que leva o visitante a conhecer a história de um espaço que tinha como objetivo distribuir leite e prestar cuidados de saúde às famílias mais necessitadas.

O primeiro Lactário do país surgiu em 1903, ainda no tempo da monarquia, sete anos antes da implantação da República, numa altura em que a mortalidade infantil era particularmente elevada.

Instituído pela Fundação Aboim Sande Lemos (FASL), o museu é dividido em duas áreas distintas. Uma dedicada à criação do Lactário e ao fundador, onde se encontram também peças de pintura, escultura e documentos. Na outra, o visitante consegue ver reconstituições dos "espaços dos antigos Serviços e se apresentam documentos e objectos relacionados com a respectiva actividade: Serviços de Lacticologia e de Lactário, Serviço Médico, Serviço Social, e Serviço Administrativo".

“A coleção é composta por diversos materiais relacionados diretamente com a vida associativa, com a ação de beneficência que o Lactário desenvolveu desde o início do século XX, os principais acontecimentos da sua história, as personalidades que desempenharam cargos de gerência e os utentes auxiliados”, pode ler-se no site do museu.

Lactário: a palavra que não vinha no dicionário

Reprodução Museu do Lactário

Apesar de alguns progressos na Medicina, no fim do século XIX Portugal tinha índices de mortalidade bastante elevados. Para tentar resolver a situação, o coronel Rodrigo António Aboim Ascensão criou em Alfama uma associação vocacionada para o apoio à primeira infância e inspirada no modelo francês das gouttes-de-lait (gotas de leite), desenvolvido pelo pediatra Léon Dufour.

O modelo, totalmente inovador para o nosso país, distribuía leite, com qualidade controlada, às crianças “no período de lactação e apoio pediátrico”. O serviço, assim como se pode perceber no site do museu, estava organizado em diferentes áreas.

“Serviço de Lacticologia, responsável pela produção de leite higiénico; Serviço de Lactário, que realizava a distribuição diária de leite mediante prescrição médica; Serviço Médico, com um pediatra que acompanhava semanalmente cada utente e apoio neonatal com uma tecnologia de ponta à época: incubadoras de Alexandre Lion; Serviço Social, o qual prestava apoio ao agregado familiar através da ação das Protetoras Assistentes; e Serviço Administrativo, responsável pela gestão da Associação e pela comunicação com o exterior”.

O sucesso da iniciativa fez com que a ajuda se entendesse a toda a zona ribeirinha de Lisboa, de Alcântara ao Beato. Entre 1903 e 2006 foram distribuídos cerca de quatro milhões de litros de leite a mais de 16 milhões de crianças. À lista, junta-se, ainda, a entrega de 10 mil enxovais e realizadas 100 mil consultas de pediatria.

As primeiras incubadoras em Portugal

Reprodução Museu do Lactário

Na história centenária do espaço está, também, a compra de quatro incubadoras, em 1903, que vieram revolucionar os cuidados de saúde em Portugal e que ainda hoje podem ser vistas no museu.

“Os objetos com maior valor patrimonial enquanto representantes de um marco importante no avanço científico e tecnológico aplicado aos cuidados da criança, e que levou ao surgimento da neonatologia”.

Reprodução Museu do Lactário

“As couveuses d´enfants, como eram designadas, foram desenvolvidas pelo francês Alexandre Lion e patenteadas em 1896”. Com uma tecnologia bastante avançada para a época, os aparelhos foram apresentados em 1900, na exposição Universal de Paris.

Toda esta história pode ser descoberta em Lisboa, no Museu do Lactário.