Até aos três anos, Rita e o marido não notaram nada de preocupante no desenvolvimento e no comportamento do filho, mas a partir daí foram-se deparando com alguns sinais que os deixaram inquietos. Francisco interagia pouco, quase não respondia, começou a reagir muito a barulhos, mesmo de brinquedos que sempre gostara, e passou a ter crises frequentes de grande descontrolo emocional.

“Na parte social e emocional havia muita desregulação que eu não conseguia explicar e que começou a deixar-me muito incomodada. Os nossos filhos não devem deixar-nos incomodados. Por isso, quando comecei a sentir-me assim, pensei ‘há aqui qualquer coisa’", conta a mãe, Rita Duarte, no mais recente episódio do podcast "Que Voz é Esta?".

Rita Duarte, mãe de um menino de 8 anos diagnosticado aos 4 com autismo, foi uma das convidadas do podcast
Rita Duarte, mãe de um menino de 8 anos diagnosticado aos 4 com autismo, foi uma das convidadas do podcast José Fonseca Fernandes

Aos 4 anos, Francisco, atualmente com 8, foi diagnosticado com autismo, um diagnóstico que inicialmente a fez desabar e ir “ao fundo”. Agora, olhando para trás, Rita recorda outros sinais, mais subtis, que o filho já evidenciava desde muito cedo, mas que na altura os pais não valorizaram ou até acharam graça.

Igualmente convidada neste episódio, Carla Almeida, especialista em deteção e intervenção precoce em perturbações do espetro do autismo no Centro PIN, explica que “entre os 6 e os 12 meses começam a surgir alguns sinais e a partir dos 18/24 meses é muito possível definir o diagnóstico”.

“Tenho mães que reportam que sentiram, quase desde o dia 1, que alguma coisa podia não estar bem. Isso pode não ter só a ver com a gravidade dos sintomas, mas também com a experiência das mães. Uma que já tenha tido outro filho e que inevitavelmente compara pode ver mais cedo alguns sinais do que uma mãe de primeira viagem”, diz.

Embora ainda haja, por vezes, "alguma resistência da parte da sociedade a um diagnóstico precoce, por medo do rótulo”, é fundamental que a avaliação seja feita o mais cedo possível para que se possa intervir desde logo, idealmente ainda nos primeiros três anos de vida, quando a neuroplasticidade é maior, sublinha a especialista.

Carla Almeida, especialista em intervenção precoce em crianças com autismo, foi uma das convidadas do podcast
Carla Almeida, especialista em intervenção precoce em crianças com autismo, foi uma das convidadas do podcast José Fonseca Fernandes

Porém, alguns mitos ou estereótipos que ainda persistem em torno desta perturbação, como a ideia de que as crianças autistas não falam ou, pelo contrário, são todas sobredotadas, leva muitos pais a adiar a procura de uma avaliação especializada.

Para esse adiamento contribui também a desvalorização dos sinais de alerta, por se considerar que “é apenas uma fase” ou que vão acabar por passar, explica Carla Almeida.

Mas quais são, afinal, os primeiros sinais que podem evidenciar uma perturbação do espetro do autismo? Quão precocemente é possível intervir e quais são as abordagens terapêuticas mais eficazes? São estas algumas das questões que dão o mote ao mais recente episódio do podcast do Expresso dedicado à saúde mental.

Nesta temporada do podcast "Que Voz É Esta?", as jornalistas Joana Pereira Bastos e Helena Bento exploram emoções como culpa, vergonha ou raiva, com mais casos reais e com a participação de especialistas na área da saúde. Ouça aqui mais episódios:

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