
A direção da Associação de Lesados do Banif (Alboa) vai continuar a ser presidida por Jacinto Silva, que se demitiu, mas aceitou um novo mandato na segunda-feira, em assembleia geral.
A direção da Alboa demitiu-se, levando a uma assembleia de associados na segunda-feira para eleger uma nova liderança, depois de anos de "promessas vãs" dos governos, segundo o seu presidente.
Depois de ter dito, na segunda-feira, que "acreditar nas promessas que se tornaram promessas vãs" conduziu a "um cansaço e uma desilusão completa", Jacinto Silva aceitou permanecer à frente dos destinos da associação para um novo mandato de dois anos.
"A minha intenção era mesmo ir embora, por estar cansado, derrotado neste processo, mas conseguiram chamar-me à razão que não era nesta altura", explicou hoje, à Lusa, por telefone.
Nove anos depois da resolução do banco e de promessas adiadas por executivos anteriores, a nova direção da Alboa, que conta com mais três membros que a anterior, espera que seja possível "chegar ainda a um entendimento com o Governo que sair das próximas eleições legislativas".
Jacinto Silva acrescentou que este mandato "garantidamente é para cumprir" até ao fim, independentemente do executivo que resulte das eleições legislativas de 18 de maio.
O presidente da direção da associação com mais de 1.200 associados, apontou o dedo aos governos do Partido Socialista (PS) liderados por António Costa desde a resolução do Banif, em dezembro de 2015.
"Andou-se a empurrar com a barriga durante sete ou oito anos", lamentou, acrescentando que o grupo de trabalho para analisar as queixas dos lesados do Banif não teve efeitos práticos e que o progresso não foi transmitido para o executivo demissionário encabeçado por Luís Montenegro.
"Tudo isto não passou de encenações a enganar pessoas que não tiveram absolutamente nada a ver" com a gestão do banco, acrescentou, sublinhando que os lesados são pessoas que "andaram a vida inteira a trabalhar" e não "especuladores financeiros".
Nos meses finais de 2022 arrancaram no Ministério das Finanças reuniões de um grupo de trabalho para encontrar uma solução que compense os investidores não qualificados do Banif, das sucursais exteriores do Banco Espírito Santo (BES) e do Banco Privée pelas perdas sofridas na queda destes bancos.
Há anos que estes lesados têm tido promessas políticas de verem o seu problema minorado, mas o processo tem-se arrastado.
O BES terminou em agosto de 2014 e o Banif em final de 2015, deixando lesados milhares de clientes que investiram em títulos financeiros.
Em dezembro de 2019, uma comissão de peritos nomeada pela Ordem dos Advogados concluiu que foram encontrados indícios de práticas ilícitas na venda dos produtos financeiros no Banif e validaram 2.330 pedidos de lesados, sendo o valor dos investimentos em causa de 230 milhões de euros.
Segundo a Alboa, o 'lesado Banif' tem em média 61 anos, baixa escolaridade (39% têm escolaridade inferior ao 4.º ano do ensino básico) e é proveniente dos Açores ou Madeira. A aplicação média é de 73,5 mil euros e as obrigações subordinadas Banif são o produto financeiro mais comum.