A desinformação organizacional contínua em destaque no Colóquio Internacional sobre a luta regional e local contra a desinformação na era da globalização e da pós-verdade.

A docente da Universidade da Madeira, Sónia Gonçalves, primeira oradora neste terceiro e último dia do Colóquio Internacional ‘A luta regional e local contra a desinformação na era da globalização e da pós-verdade’, abordou o impacto da desinformação no contexto organizacional — afectando empresas, marcas, instituições e organismos políticos.

Citando a sua investigação de doutoramento, a docente universitária realçou logo na introdução o “foco não jornalístico, mas organizacional” da sua análise, centrando-se na forma como a desinformação interfere com a credibilidade e a actuação das organizações. Destacou ainda que vivemos uma “difusão da informação não verificada tão antiga quanto a nossa existência”, agravada hoje pela “propagação descontrolada da desinformação”, visível em fenómenos como as eleições norte-americanas, o referendo do Brexit, a pandemia de Covid-19 ou os actuais conflitos bélicos.

Entre os principais temas abordados esteve a desinformação publicitária, cujas origens nem sempre são fáceis de detectar. A docente referiu o exemplo recente do apagão informático, atribuído a um possível ataque russo, ainda por esclarecer. Lembrou também que “a publicidade enganosa sempre existiu, tanto no mundo empresarial como na política”, sendo potenciada hoje por algoritmos que permitem direccionar conteúdos manipulados para públicos específicos.

A desinformação, advertiu, “é ou pode ser uma fonte rentável”, e os seus efeitos alastram-se rapidamente, especialmente quando envolvem figuras públicas com grande alcance nas redes sociais. Sónia Gonçalves salientou que, entre os sectores mais afectados em Portugal e Espanha, destacam-se as instituições, empresas e partidos políticos.

O uso indevido de páginas de órgãos de imprensa, anúncios publicitários manipulados e a associação enganosa de marcas a personalidades conhecidas foram identificados como métodos recorrentes da desinformação organizacional.

Nas conclusões da apresentação, a investigadora reiterou que a desinformação tem um impacto directo e significativo nas organizações e defendeu a criação de projectos que recorram a ferramentas de inteligência artificial para detecção automática de conteúdos falsos.