Depois de fazer história na Madeira, o Juntos Pelo Povo chegou ao continente para continuar o seu percurso histórico. Nascido de um movimento de cidadãos na ilha, em 2009, o JPP tornou-se este domingo a primeiro partido com sede fora de Lisboa a eleger um deputado para o Parlamento português.

Apesar de ser a quinta vez consecutiva que concorre a eleições legislativas nacionais desde que foi constituído como partido, em 2015, só agora conseguiu concretizar a sua expectativa com a eleição de Filipe Sousa, antigo presidente do partido. Mas quem é este novo deputado?

Quem é Filipe Sousa?

Eletricista de profissão, o novo deputado fundou o Juntos Pelo Povo ao lado do irmão, Élvio Sousa, atual secretário-geral do partido e líder da oposição no parlamento madeirense. Filipe Sousa foi eleito presidente do partido no primeiro Congresso Nacional, em 2015, e manteve-se no cargo até ao ano passado. Atualmente, não exerce nenhum cargo de dirigente.

Em 2013, tornou-se presidente da Câmara de Santa Cruz. Foi o autarca do segundo concelho mais populoso da Madeira até 7 de abril, quando suspendeu a função para encabeçar a lista do partido às legislativas nacionais. Filipe Sousa retoma esta segunda-feira o mandato na Câmara, onde se vai manter até tomar posse como deputado da Assembleia da República.

O esclarecimento foi feito pelo próprio no domingo, depois de ser confirmado oficialmente que o partido elegeu um deputado, algo que nunca tinha acontecido antes. Aos jornalistas, Filipe Sousa disse que era um "dia histórico" e afirmou que o partido "era o grande vencedor", porque aumentou a votação em quase três mil votos face às legislativas anteriores.

"Com todo este crescimento dos populismos conseguimos superar e a verdade é que superámos sem estarmos à sombra dos líderes nacionais."

Nas declarações aos jornalistas, em Santa Cruz, de onde é natural, Filipe Sousa garantiu que "as questões da Madeira estarão à frente", mas assumiu que, caso o JPP seja o "fiel da balança", terá de "ter em consideração a estabilidade nacional, aquilo que o país precisa".

Entre as principais prioridades do novo deputado está a linha ferry entre a Madeira e o continente, assim como uma proposta para que os madeirenses paguem diretamente o valor final previsto do subsídio social de mobilidade nas viagens aéreas.

A ideologia e identidade

Não é um partido nem de esquerda, nem de direita. Na declaração de princípios do JPP, os responsáveis do partido dizem que “secundarizam” essa “tradicional dicotomia”. E se é certo que, nesta declaração, há coisas que soam totalmente a discurso de direita - como o “princípio do respeito pelos costumes sociais (...) sobretudo a instituição familiar” -, há também outras que soam bastante à ideologia de esquerda - “o Estado tem o dever de garantir, através das suas funções de regulação social, a concretização e o desenvolvimento do Estado Social”.

O JPP define-se como “um partido liberal de matriz social”. É, acima de tudo, um partido regionalista.

É liderado, atualmente, por um dos originais irmãos Sousa - Élvio, arqueólogo, de 50 anos. E é o próprio quem atira que "99 por cento dos militantes" do JPP nunca estiveram noutro partido.

Além de tudo isto, o JPP rege-se pelo slogan “Unidade, Transparência e Resistência” e tem um hino bastante animado (onde se assume como de “gente séria e muito ativa”).

Um partido de "gauleses"

Sim, é uma referência a Astérix. Isto porque a história do JPP tem raízes profundas na freguesia de Gaula, no concelho de Santa Cruz, na ilha da Madeira. Foi aqui que nasceu - trata-se, aliás, do único partido nascido dentro do próprio arquipélago –, apesar de, entretanto, já ter crescido para fora dele.

Tudo começou em 2009, pelas mãos dos irmãos Élvio e Filipe Sousa, este último um ex-militante socialista, que deixou o PS para formar o JPP. Na altura, o Juntos Pelo Povo começou por ser um movimento de cidadãos, que decidiu concorrer às autárquicas.

Homem de Gouveia

A Madeira era, então, um território dominado pelo PSD de Alberto João Jardim – e os irmãos Sousa procuravam levar a cabo uma mudança. A verdade é que, se houvesse prémio revelação na política autárquica, tinham-no mesmo vencido. Ganharam logo a junta de freguesia de Gaula com maioria absoluta.

Da junta até à Assembleia da República

Em 2013, o movimento de cidadãos decide subir um degrau e apontar mesmo à câmara municipal de Santa Cruz, que vence também (assim como todas as juntas de freguesia do concelho). É aqui que se estabiliza o domínio “JPPista” em Santa Cruz - concelho em que, nas eleições regionais do último domingo, foi mesmo a força política mais votada (ficando bem à frente do PSD – 33,83% contra 26,85%).

Com as autárquicas mais do que conquistadas, o JPP passa a almejar toda a região. Em 2015, consegue ser legalizado enquanto partido político pelo Tribunal Constitucional – e se a lei só exige 7.500 assinaturas para que isso seja possível, consta que foram entregues mais de 10 mil.

O JPP concorre assim, pela primeira vez, às eleições legislativas regionais na Madeira, em 2015. Consegue somar mais de 10% dos votos e eleger logo cino deputados (apenas um a menos do que a coligação de que fazia parte o PS).

Nas recentes eleições madeirenses, a 23 de março, o JPP voltou a fazer história ao ultrapassar o PS, subindo assim ao lugar de segunda força política no parlamento regional. Elegeu 11 deputados.

Nas eleições deste domingo, o partido estava a concorrer em 10 círculos eleitorais: Coimbra, Braga, Faro, Setúbal, Porto, Lisboa, Madeira, Açores, Europa e Fora da Europa. Mas era na ilha de onde foi criado que a probabilidade de eleger era maior.

Em 2024, ficou a apenas 500 votos de garantir a eleição pelo círculo da Madeira, mas em 2025 a eleição não escapou.