
O forte ataque que Donald Trump tem feito nos últimos dias contra Volodymyr Zelensky, dizendo que é um “ditador sem eleições” que "tem feito um trabalho terrível", está a merecer censura de dois dos seus antigos aliados.
“As caracterizações feitas por Trump sobre Zelensky e sobre a Ucrânia são das declarações mais vergonhosas alguma vez feitas por um presidente dos Estados Unidos da América”, escreveu John Bolton numa publicação no Twitteresta quarta-feira. Foi numa publicação da sua Truth Social que Trump escreveu que Zelensky ou se mexe rapidamente, ou corre o risco de perder a Ucrânia.
Bolton foi antigo aliado do republicano, incluindo seu assessor para a segurança nacional na primeira presidência (2017-2021), mas tem-se posicionado contra as suas afirmações – já o acusou de se “render” perante Vladimir Putin, o presidente russo, ou afirmou que a Rússia e a China olhavam para ele como "idiota útil".
Sobre as acusações de que Zelensky tem pedido dinheiro aos Estados Unidos e que sem o qual não conseguia sobreviver na guerra contra a Rússia, John Bolton especificou que o apoio à Ucrânia “nunca foi sobre caridade” – “a nossa forma de vida interna depende da nossa força externa”.
Bolton não está sozinho e o antigo vice-presidente americano, também no primeiro mandato, Mike Pence, posicionou-se contra Trump, igualmente numa publicação no Twitter.“Senhor presidente, a Ucrânia não ‘iniciou’ esta guerra. A Rússia lançou uma invasão hostil e brutal que custou centenas de milhares de vida. O Caminho para a Paz deve ser construído com base na Verdade”, escreveu.
Trump tem criticado Zelensky, o antecessor Joe Biden e a Europa relativamente à forma como lidaram com a Rússia e a invasão da Ucrânia. Aliás, os EUA estiveram reunidos com a Rússia na Arábia Saudita para tentarem resolver o conflito, mas sem a presença ucraniana – e o presidente americano tem deixado claro que não é com Zelensky que quer vir a negociar.
A tensão entre Trump e Zelensky tem-se intensificado, com o ucraniano a acusar o presidente americano de viver numa “bolha de desinformação”, inclusive de alinhar com informação errada vinda da Rússia.
Direito a existir
Quem também reagiu às palavras do presidente americano foi Andrii Sybiha, ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros. “A Ucrânia resistiu aos mais terríveis ataques militares da história moderna europeia e a três anos de uma guerra brutal. O povo ucraniano e o presidente Zelensky recusam-se a ceder à pressão de Putin. Ninguém pode forçar a Ucrânia a desistir. Vamos defender o nosso direito a existir”.
A invasão russa foi a 24 de fevereiro de 2022, estando prestes a contar-se três anos desde o início do conflito, em que a parte leste da Ucrânia tem estado ocupada por forças russas. Na Europa, tem havido reuniões ao mais alto nível para decidir como reagir à renovada tensão sobre a Ucrânia.