Daniel Chapo, investido esta quinta-feira quinto Presidente de Moçambique, é o primeiro chefe de Estado nascido após a independência e que, apoiado pela Frelimo, no poder, assume o país entre a maior contestação aos resultados eleitorais que a nação conheceu.
Formado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, em 2000, Daniel Francisco Chapo nasceu em Inhaminga, província de Sofala, centro de Moçambique, em 06 de janeiro de 1977, sendo por isso o primeiro candidato da Frelimo e o primeiro Presidente nascido já depois da independência do país (1975).
Jurista de profissão, Daniel Chapo, 48 anos, foi aprovado em maio de 2024 pelo Comité Central do partido como candidato à sucessão de Filipe Nyusi, constitucionalmente impedido de concorrer a um novo mandato após 10 anos como chefe de Estado.
O Conselho Constitucional proclamou em 23 de dezembro Daniel Chapo como vencedor da eleição presidencial, com 65,17% dos votos nas eleições gerais de 09 de outubro.
Chapo, que já foi locutor de rádio, docente universitário e administrador, era, até à altura da sua indicação, um político de "perfil discreto" que governava, desde 2016, a província turística de Inhambane, no sul de Moçambique.
No percurso até à Ponta Vermelha (residência oficial do Presidente da República), onde chega esta tarde, Chapo enfrentou nestas eleições Venâncio Mondlane, apoiado pelo extraparlamentar Partido Otimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), Ossufo Momade, líder e apoiado pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal força de oposição, e Lutero Simango, suportado e presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
Chapo, apontado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) como uma "proposta jovem", assumiu hoje a Presidência moçambicana no ano em que o país assinala 50 anos de independência, um período marcado, entretanto, pela maior contestação aos resultados eleitorais desde as primeiras eleições, 1994.
Pelo menos 300 mortos em confrontos entre manifestantes e polícia
Pelo menos 300 pessoas morreram em confrontos entre a polícia e protestantes nas manifestações pós-eleitorais desde 21 de outubro, além de 600 feridos a tiro, segundo balanço da Plataforma Eleitoral Decide, que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique.
São manifestações e paralisações convocadas por Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados eleitorais anunciados, reclamando vitória, mas, na rua, os protestos são maioritariamente assumidos por jovens, que questionam os 50 anos da governação da Frelimo e, além do argumento da verdade eleitoral, incluem, como motivações, o desemprego e a baixa escolaridade, que, dos 32 milhões de moçambicanos, afeta um terço dos cerca de 9,4 milhões de jovens que existem no país, segundo as estatísticas oficiais mais recentes.
É um problema que durante a campanha eleitoral, por diversas vezes, Chapo abordou, apontando a formação como fundamental e prometendo oportunidades.
"Queremos potenciar a atividade agrícola para impulsionar a produção e, por via disso, atrair a indústria para aqui. Isso vai criar mais empregos para os nossos jovens", declarou Chapo, num comício, em 21 setembro, em Cuamba, província do Niassa, perante uma plateia predominantemente jovem.
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Essencialmente, no seu manifesto, com o slogan "Vamos Trabalhar", a prioridade é "atacar a burocracia e a corrupção", avançou Chapo, em entrevista à Lusa em outubro, destacando que governar o país era uma "missão" lhe havia sido atribuída pela Frelimo.
"Realmente fazem-se muitas promessas e é preciso pensarmos em medidas concretas que é para poder corresponder à expetativa do povo moçambicano", assumiu, sublinhando a necessidade de "reduzir" a burocracia do Estado enquanto prioridade do seu Governo.
Antes da tomada de posse concretizada esta manhã, o desafio continua a ser a onda de protestos que levaram caos às ruas, promovidos por quem contesta a sua vitória, que são sobretudo jovens, apesar de discurso inclusivo direcionado a esta camada que Chapo tem adotado.
"Somos uma nação forte e resiliente, um povo escolhido e abençoado. Por isso, vamos, juntos e em harmonia, vencer as atuais adversidades e introduzir um novo capítulo na nossa história, construindo a pérola do Índico que tanto sonhámos", afirmou Daniel Chapo antes da sua posse, numa mensagem na sua conta oficial na rede social Facebook .