As últimas horas foram marcadas por muita chuva e trovoada em Portugal, com a Proteção Civil a emitir um alerta à população para os efeitos da depressão Garoe. Um relâmpago pode ter sido a causa de um incêndio, na terça-feira, num restaurante da Costa da Caparica. A trovoada é um dos fenómenos meteorológicos "mais dramáticos" e continua a gerar mitos e dúvidas. Entre a regra dos 30 segundos ou os dois lugares mais seguros, saiba o que deve fazer para se proteger de um raio?

O que é trovoada?

A trovoada é um fenómeno extremo da instabilidade atmosférica e é caracterizada pela ocorrência de relâmpagos (a luz que resulta da incandescência do ar) e de trovões (o som que resulta da expansão brusca do ar).

De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, é um dos fenómenos meteorológicos "mais dramáticos", devido não só aos raios, que são portadores de enormes quantidades de energia eletromagnética, como também à precipitação frequentemente intensa.

Como se forma?

A trovoada está associada à instabilidade atmosférica, humidade elevada e ascensão do ar. Ou seja, para se formar é necessário que exista uma elevação do ar húmido numa atmosfera instável.

Como perceber se os raios estão próximos?

A Proteção Civil explica que um dos critérios a utilizar durante um episódio de trovoada é a regra dos 30 segundos, de modo a perceber se está ou não a aproximar-se daquela área. E como funciona? Após visualizar o relâmpago, deve contabilizar 30 segundos e, se durante esse tempo o som do trovão for ouvido, devem ser adotadas medidas de proteção pois a trovoada está próxima. No entanto, a Proteção Civil sublinha que este não é um critério rigoroso.

Como se determina a distância?

Segundo o IPMA, para determinar a distância a que está uma trovoada é necessário medir o intervalo de tempo entre a ocorrência do relâmpago e o momento em que se ouve o trovão. Como a luz viaja mais rápido que o som, o relâmpago e o trovão não acontecem simultaneamente.

Deste modo, a distância em metros ao local onde ocorreu a trovoada é obtida através da multiplicação de 340 pelo intervalo de tempo, em segundos, entre o relâmpago e o trovão. Por exemplo, se o intervalo é de 10 segundos, a trovoada está a 3400 metros (3,4 quilómetros).

Quando é que é mais frequente em Portugal?

Em Portugal, a trovoada está principalmente associada à aproximação e passagem de frentes de ar fria e à ascensão de massas de ar muito húmido, que resulta de "movimentos convectivos que ocorrem por efeito orográfico ou que ocorrem sobre as superfícies terrestres aquecidas pela intensa radiação solar".

Segundo um relatório da Météorage, especialista no impacto de trovoadas e relâmpagos, em 2022, Portugal teve 125 dias de episódios de tempestade, nos quais foram detetados pelo menos um raio. No ano anterior, foram 92 dias.

O mês de 2022 com mais queda de raios foi setembro, com 5.800 detetados, e foi no distrito de Bragança onde se registaram mais raios.

Quais as consequências de um raio?

A queda de raios podem causa danos, incêndios e até mortes.

Se um raio atingir um cabo de energia elétrica próximo de uma habitação, que não está devidamente protegida, pode danificar parte dos aparelhos elétricos e eletrónicos dessa casa.

Já as temperaturas elevadas associadas ao raio, a chamada trovoada seca, podem dar origem a incêndios.

Quando atinge uma pessoa, o raio pode causar queimaduras intensas ou, no pior dos cenários, morte. Segundo as estimativas, por ano, morreram entre 6.000 a 24.000 pessoas por todo o mundo.

Quais são os lugares mais seguros?

De acordo com o meteorologista Chris Vagasky, há dois lugares seguros durante um episódio de trovoada:

  • Edifícios com quatro paredes, um teto, eletricidade e canalização: se o raio atingir a estrutura, a eletricidade do raio vai atravessar as paredes e não a pessoa;
  • Veículos com teto metálico e totalmente fechados: em caso de ser atingido por um raio, a eletricidade atravessa o invólucro metálico, mantendo a pessoa lá dentro segura. Ou seja, não são os pneus de borracha que auferem a proteção, um mito comum.

Deste modo, espaços abertos e pequenas construções sem canalização ou eletricidade não são os locais mais seguros durante a trovoada, nem descapotáveis, carrinhos de golfe ou outros veículos abertos.

Como se proteger?

De acordo com a Proteção Civil, em caso de trovoada, deve:

  • Manter-se dentro de casa e afastado das janelas;
  • Em casa, se quiser ser 100% cauteloso, desligar a televisão, computador e outros aparelhos elétricos. A luz pode permanecer ligada uma vez que isso não aumenta a probabilidade da casa ser atingida por um raio;
  • Em casa, evitar tomar banho ou deixar água a correr para qualquer outro propósito;
  • Na rua, evitar permanecer em locais com reservas de água ou demasiado húmidos, uma vez que a água pode ser um bom meio de condução elétrica, assim como o metal;
  • Em locais amplos, ao ar livre, deve ser procurado abrigo, numa zona de baixa altitude e protegido por um vale ou debaixo de um conjunto denso de arbustos;
  • Não deve permanecer debaixo de uma árvore alta e/ou isolada. A maior parte das vítimas de trovoadas são atingidas quando procuram abrigo debaixo de uma árvore.
  • Não permanecer no topo de uma colina, em campo aberto ou na praia.

Se uma pessoa for atingida por um raio, pode ser tocada?

Sim. Se uma pessoa for atingida não significa que transporta qualquer carga elétrica e, deste modo, pode ser tocada. Terá sofrido um violento choque elétrico e poderá apresentar queimaduras. Em qualquer caso, deverão ser chamados os serviços de emergência.

Quantos relâmpagos são registados por dia?

O planeta Terra regista cerca de 8.600.000 relâmpagos por dia.

Sabia que os raios podem ter cores diferentes?

De acordo com o IPMA, a cor do raio está associada à composição da atmosfera na qual ocorre:

  • Vermelha: presença de precipitação na atmosfera;
  • Azul: gelo / granizo;
  • Amarela: poeiras;
  • Branca: sinal de ar muito seco.

Um raio cai sempre no ponto mais alto?

"Nunca digas nunca". Os objetos altos, como árvores ou arranha-céus, têm maior probabilidade de serem atingidos por um raio. No entanto, isto não significa que serão sempre atingidos e um raio pode atingir o solo num campo aberto, mesmo que uma árvore esteja próxima, de acordo com o Laboratório Nacional de Tempestades Severas dos Estados Unidos.

Um raio pode cair duas vezes no mesmo sítio?

Apesar da crença comum de que "um raio não cai duas vezes no mesmo sítio", a ciência diz o contrário. Aliás, é bastante comum um raio cair várias vezes no mesmo sítio e as probabilidade de isso acontecer são bastante altas, de acordo com a National Geographic.