A Comissão Europeia estima um impacto económico de até 0,6% no Produto Interno Bruto (PIB) da União Europeia por novos direitos aduaneiros norte-americanos permanentes, que seria cinco vezes pior nos Estados Unidos pela 'guerra' tarifária iniciada pelo país.

"De acordo com as nossas últimas simulações de modelos sobre o impacto dos direitos aduaneiros nos Estados Unidos, o PIB norte-americano seria reduzido entre 0,8 a 1,4% até 2027, enquanto o impacto negativo na UE [União Europeia] seria menor, de cerca de 0,2% do PIB", começou por dizer o comissário europeu da Economia, Valdis Dombrovskis, em Varsóvia, na Polónia.

Falando no final da reunião informal dos ministros das Finanças do euro e antes do encontro esta tarde dos governantes europeus da tutela, Valdis Dombrovskis acrescentou: "Se os direitos aduaneiros forem considerados permanentes ou se forem tomadas novas contramedidas, as consequências económicas seriam mais negativas, podendo atingir 3,1% a 3,3% para os Estados Unidos e 0,5% a 0,6% para a UE e 1,2% para o PIB mundial".

Ao mesmo tempo, "o comércio mundial diminuiria 7,7% em três anos", destacou, numa das primeiras previsões de Bruxelas sobre as atuais tensões comerciais transatlânticas, baseadas na taxa de 25%.

Valdis Dombrovskis salvaguardou, porém, que "estas simulações não têm em conta a perda adicional de confiança dos investidores e das empresas na economia dos Estados Unidos, o que poderia aumentar o impacto negativo no PIB".

Além disso, "dada a extraordinária incerteza e a rápida mudança das suas decisões, as nossas simulações de modelo não podem ser totalmente precisas, mas mostram a tendência geral de que as tarifas são prejudiciais para a economia e para a prosperidade", adiantou.

Os ministros das Finanças da zona euro discutiram hoje o impacto económico das novas tarifas aduaneiras dos Estados Unidos, num contexto de alívio após o anúncio norte-americano de suspensão temporária, pausa também adotada pelo bloco comunitário.

As previsões macroeconómicas estão a ser influenciadas pelas políticas protecionistas dos Estados Unidos devido à imposição de tarifas elevadas a vários blocos, incluindo à UE, o que tem desencadeado tensões comerciais e instabilidade nos mercados financeiros e receios de desaceleração económica e inflação persistente.

Realizada em Varsóvia pela presidência do Conselho da UE assumida pela Polónia, a reunião informal acontece num momento de acentuadas tensões comerciais após anúncios de Donald Trump, de taxas de 25% ao aço, alumínio e automóveis europeus e de 20% em tarifas recíprocas ao bloco comunitário, estas últimas entretanto suspensas por 90 dias.

A suspensão acalmou os mercados, que têm vindo a registar graves perdas, e foi saudada e secundada pela UE, que suspendeu, durante o mesmo período, as tarifas de 25% a produtos norte-americanos que havia aprovado na quarta-feira em resposta às aplicadas pelos Estados Unidos ao aço e alumínio europeus.

Estão, ainda assim, em vigor tarifas recíprocas norte-americanas de 10% à UE.

Hoje mesmo, a Comissão Europeia avisou que a UE avançará com um primeiro conjunto de direitos aduaneiros se, na atual pausa nas tarifas dos Estados Unidos, os dois blocos não chegarem a soluções construtivas e mutuamente aceitáveis.

Entretanto, numa entrevista publicada no jornal britânico Financial Times, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, admitiu taxas às empresas digitais norte-americanas, caso não se consiga chegar a um acordo nestes 90 dias que reduza a vaga de tarifas de Donald Trump contra a Europa.

A Comissão Europeia, que detém a competência da política comercial na UE, tem optado pela prudência e essa cautela é apoiada por países como Portugal.

Bruxelas quer, neste período de pausa de 90 dias, conseguir negociar com Washington, após ter já proposto tarifas zero para bens industriais nas trocas comerciais entre ambos os blocos.