O centro de Maputo vive esta quarta-feira momentos de caos, com dezenas de manifestantes a apedrejarem viaturas da polícia, entre ruas totalmente bloqueadas, depois de uma jovem ter sido atropelada por militares, quando protestava no centro da avenida Eduardo Mondlane.
O trânsito em várias avenidas centrais de Maputo está totalmente bloqueado por manifestantes, que impedem a circulação, enquanto a polícia está a responder com lançamento de gás lacrimogéneo, em novos protestos contra o processo das eleições gerais moçambicanas de 09 de outubro, convocado pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
O atropelamento da jovem por uma viatura militar blindada que circulava em alta velocidade, cerca das 09:30 locais (07:30 em Lisboa), - não sendo claro se o condutor avistou a manifestante do outro lado da barricada - provocou a ira dos manifestantes, que até então estavam apenas a cortar a circulação automóvel em praticamente todas as artérias centrais de Maputo.
A jovem foi transportada por outros populares para o hospital em estado grave.
Manifestantes respondem com arremesso de pedras, autoridades disparam balas reais
À passagem de qualquer viatura policial, incluindo blindados, os manifestantes respondem com o arremesso de pedras e paus, pelo menos nas avenidas Eduardo Mondlane e Guerra Popular, centro da capital moçambicana.
Cerca das 11:00 locais (09:00 de Lisboa), as autoridades disparam balas reais e foram cercadas por dezenas de populares.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou à população moçambicana para, durante três dias, a partir de hoje, abandonar os carros a partir das 08:00 nas ruas, com cartazes de contestação eleitoral, até regressarem do trabalho.
Pelo menos 67 pessoas morreram e outras 210 foram baleadas num mês de manifestações, desde 21 de outubro, de contestação dos resultados das eleições gerais em Moçambique, indica a atualização feita sábado pela Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana Plataforma Eleitoral Decide.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane tem convocado estas manifestações, que acabam em confrontos com a polícia, que tem recorrido a disparos de gás lacrimogéneo e tiros para dispersar, como forma de contestar a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Avenidas bloqueadas no centro de Maputo
Algumas artérias da cidade de Maputo estão bloqueadas desde o início da manhã por manifestantes pró Venâncio Mondlane, que ocuparam as ruas, impedindo o trânsito e espalhando contentores do lixo e pedras pelas vias, em protesto contra o processo eleitoral.
Nas avenidas 24 de Julho e Guerra Popular, artérias centrais da capital moçambicana, desde as 08:00 (06:00 em Lisboa) que não se circula, com manifestantes a arrastarem à força de braços contentores de grandes dimensões para o centro da via, enquanto outros colocam pneus, paus e pedras, travando qualquer automobilista que arriscasse passar.
Cerca das 08:30 locais, a polícia ainda fez um disparo de gás lacrimogéneo na avenida 24 de Julho, mas os manifestantes acabaram por não dispersar, limitando-se as autoridades, com blindados no local, a tentar desbloquear a via, sem incidentes, enquanto outros jogavam à bola no centro da avenida ou dançavam e cantavam.
Alguns, com cartazes "não somos vândalos" colados à roupa, ao som de vuvuzelas e apitos, saltavam à corda.
Igual cenário era vivido na avenida 25 de Setembro, na baixa da cidade, com manifestantes que apoiam o candidato presidencial Venâncio Mondlane a colocarem barreiras na via, com recurso a carrinhos de mão e bancadas de venda, impedindo o trânsito e repetindo a contestação ao processo envolvendo os processo eleitoral envolvendo as eleições gerais de 09 de outubro.
"Eu votei no Venâncio, é povo no poder. Tem de haver mudança", diz à Lusa Lolita Langa, uma das manifestantes no meio da 25 de setembro, entre os troços bloqueados.
Posição semelhante tem Ramiro Matavel, outro jovem manifestante: "Eu votei no Venâncio e não aceito que o meu voto seja roubado. Estarei aqui até ao fim".
"Queremos os nosso direitos, roubaram os votos do nosso povo, diz por seu lado à Lusa a jovem Adozia Uqueio, enquanto ao fundo outros jovens gritavam "Povo no Poder" ao som de uma das músicas, com o mesmo nome, do falecido rapper moçambicano de intervenção social Azagaia e que se tornou um "hino" nestas manifestações.
Entre os que estão hoje na rua, a maioria são jovens, que, além da "verdade eleitoral", exigem "mudança", questionando os quase 50 anos da Frelimo no poder no país.
"O que os nossos velhos não conseguiram fazer, nós queremos fazer. Queremos levantar a nossa bandeira, queremos levantar o nosso Moçambique", diz Rodrigo Santos, de 31 anos.
Com Lusa