
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) prometeu hoje aos católicos portugueses que o caminho de abertura iniciado pelo Papa Francisco é "algo sem retorno", com mudanças estruturais a serem decididas na assembleia eclesial em 2028.
"É evidente que o estilo do ministério do Papa Francisco não sairá da mesa mental dos cardeais eleitores", afirmou José Ornelas, presente em Roma para o funeral do líder da Igreja Católica.
"Hoje em dia já há coisas que já não se podem dizer e fazer dentro da Igreja" depois "deste caminho feito" pelo Papa Francisco, considerou o presidente da CEP.
"Eu não acredito que seja possível um retorno a maneiras de ver a Igreja que contradigam o fundamental de tudo isto: todos somos verdadeiramente irmãos, porque temos um mundo, um pai no céu, e todos também temos o dever e o gosto de trabalhar e de agir dentro da Igreja e de lutar por um mundo melhor em ligação com os outros", procurando "criar pontes" com outros setores da sociedade, defendeu o também bispo de Leiria-Fátima.
Para o presidente da CEP, Francisco deixa "um caminho riquíssimo" para a Igreja, desde os documentos pastorais que incluem preocupações com a "ecologia da humanidade", mas também a promoção da discussão interna para promover alterações estruturais na relação com o mundo.
O Caminho Sinonal, um projeto de auscultar todos os setores da igreja para discutir temas até então tabu, desde o papel das mulheres, aos divorciados passando pelas minorias sexuais, deverá ter como ponto final uma grande assembleia eclesial em 2028, onde serão apresentadas as propostas finais.
Sobre o futuro, Ornelas recusa ter medo: "Pode não ser tudo igual, mas encontramo-nos juntos, pelo menos a lutar para chegarmos a uma compreensão diferente que não seja simplesmente o conflito".
Alimentar os "medos é jogar na teoria do conflito", considerou, admitindo que existem vozes conservadoras, que considera minoritárias.
"Sabemos que o Papa tinha, de facto, pessoas dentro da Igreja que discordavam, até a nível hierárquico", mas "mesmo essas pessoas, que têm uma visão mais hierárquica das coisas, não estariam tão livres para impor um programa desses a esta Igreja que faz este caminho sinodal desde há quatro anos", assegurou.
O projeto sinodal faz com que a "Igreja caminhe com a humanidade ao serviço de todos e este 'todos, todos, todos' que sai da Jornada Mundial da Juventude", em Portugal, mostra que "todos têm lugar nesta casa", explicou José Ornelas.
Francisco "disse 'daqui a três anos, vamos fazer uma assembleia eclesial, não só simplesmente de bispos, mas uma assembleia eclesial para ver o que é que a Igreja já mudou a partir" desta discussão interna, recordou o líder da CEP, considerando que o Papa deixa "um percurso que foi começado" e que permite "abrir tantos percursos novos".
Por isso, "a questão do Sínodo não pode ser interrompida", porque não basta "pensar num documento para dar aos fiéis" com normas de funcionamento, mas o Papa quis "envolver os fiéis na elaboração desse documento e não simplesmente contar com eles como os destinatários, mas como protagonistas do caminho da Igreja".
"Não estamos a falar de temas simplesmente eclesiais. O caminho da sinodalidade para a Igreja" é "mais do que isso", porque vai definir a relação com o mundo por parte dos católicos.
"Isto não nasceu simplesmente com o Papa Francisco", mas Bergoglio "ligou-os num discurso compreensível para todos", disse José Ornelas.
Francisco morreu "numa casa de serviço", algo que "também é simbólico", numa referência à sua escolha de ficar na casa de Santa Marta em vez do Palácio Apostólico.
E, com a sua morte, deixou "um legado de estímulo" à Igreja, exortando-a a "levantar-se e caminhar", acrescentou.
Nascido como Jorge Mario Bergoglio em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e o primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica.
A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano.