Cerca de 12.000 pessoas foram atendidas (sem contar com os reinternamentos) ao longo dos últimos 100 anos pelas Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, a congregação criou a Casa de Saúde Câmara Pestana onde são acolhidas e acompanhadas as doentes mentais e ou com comportamento aditivos do sexo feminino na Madeira. A instituição que conta com 350 colaboradores celebra amanhã o centenário e esta manhã, na sessão de abertura das VI Jornadas Hospitaleiras de Saíde Mental, que decorrem durante dois dias, o director voltou a referir a necessidade de o Governo Regional aumentar o valor da diária, particularmente no caso de doentes de alta complexidade. Mas Ricardo Gomes ficou por agora sem resposta. Os valores em atraso foram já saldados. Quanto ao aumento das transferências, Herberto Jesus, presidente do Conselho de Administração do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM), em representação do presidente do Executivo, reforçou a importância do trabalho realizado, mas não se comprometeu.

Ricardo Gomes sublinhou na sessão de abertura o empenho a Casa de Saúde Câmara Pestana no doente, na formação e aquisição de equipamentos, bem como a disponibilidade para colaborar com o governo nas políticas decididas para esta área. Lembrou que asseguram não só a resposta ao nível da satisfação das necessidades básicas, mas também garantem intervenções técnicas, visando a melhoria ou a manutenção de capacidades e competências das doentes ali internadas. “Somos conscientes e agradecidos por todo o percurso feito, o que seria impossível sem a cooperação com o Governo Regional”, afirmou. “Todavia, lançamos aqui um alerta em forma de pedido para uma actualização de diárias, que façam face a uma realidade sempre em mutação e com exigências cada vez maiores”. Estas, disse, estão inclusive desfasadas das actualizações reconhecidas e ocorridas a nível nacional.

O director da Câmara Pestana assumiu a incapacidade financeira para reconhecer como desejaria os bons colaboradores e a perda a que muitas vezes esta falta de reconhecimento leva. “Consideramos que é fulcral que se olhe para a diária de psiquiatria com base nos custos reais”, apelou.

Também da parte da representante das Irmãs Hospitaleiras a nível nacional veio o apelo na intervenção de Fernanda Esteves, conselheira provincial. Lembrou a melhoria nos cuidados e o esforço contínuo de actualizar estruturas e equipas para que “os cuidados continuem a ser de excelência”. Reconheceu o contributo do Governo Regional no trabalho da congregação e sublinhou a necessidade de continuarem “a traçar juntos caminhos de cuidado e acolhimento”.

Disse ser necessário “um esforço maior” para que os doentes mentais não continuem a ser os “parentes pobres da sociedade”.

Fernanda Esteves reiterou que importa “continuar a potenciar esforços para actualizar a acção”. Destacou o impulsionar dos cuidados continuados em saúde mental e o potenciar abertura para respostas diferenciadas de e com a comunidade. “Importa por isso criar parcerias específicas com o justo reconhecimento de custos que estes cuidados e respostas exigem e merecem”, acrescentou. E citou Bento Menni. “É preciso que todos, todos, absolutamente, sejais diligentes e cuidadosos e que não haja negligência nem preguiça, nem descuido em tudo quanto diz respeito aos vossos deveres, especialmente na guarda das doentes confiadas aos nossos, aos vossos cuidados”.

Coube a Herberto Jesus dar resposta. Começou por dizer que a pandemia veio alterar o normal das pessoas, que passou a ser marcado por maior ansiedade. Diz que na sociedade há falta de amor, de carinho, de reconhecimento e de voluntariado, “tudo o que esta casa representa e que está a dar”, elogiou, acrescentando mesmo que a casa de saúde tem feito um trabalho essência, que mais ninguém faz. E alerta: Mesmo com o aparecimento do novo hospital, que vai ter uma unidade de agudos, esse trabalho vai ser cada vez maior, porque a doença mental será o problema do século, não tenho a menor dúvida”.

O governante lembrou que o Executivo tem tido “uma atenção especial” para a saúde mental e para a saúde em geral. Assegurou que o Governo tem tentado ajudar. “Percebemos as necessidades, estamos atentos às necessidades e estamos cientes que o nosso papel é ir de acordo com as expectativas das casas de saúde, isso não tenho dúvidas”.

Herberto Jesus assegurou que o Governo está atento, que quer fazer o melhor possível. “Sabemos quais são as necessidades, quais são as expectativas e às vezes a felicidade é só isso, é tentar ver as nossas expectativas, a nossa realidade e tentar corresponder a isso”. E ficou por aqui. À margem do discurso, garantiu a abertura do Executivo.

"Ao longo do tempo tem havido um interesse em acompanhar as necessidades das casas de saúde e está pensado ao nível do Governo e ao nível orçamental haver um aumento progressivamente, essa é a intenção do Governo actualmente", assegurou, lembrando que "tem havido um grande esforço da sociedade e de todos nós em ir aproximando do valor necessário".

O presidente do SESARAM disse ainda que estão sempre abertos para tentar ajudar e fazer o melhor.

A diária geral está nos 56,35 euros, a instituição pretende que passe para os 60 euros, e até aos 68 para os doentes de alta complexidade.