
António Costa Silva nasceu numa terra chamada Nova Sintra, atualmente conhecida como Catabola, no Bié, Angola.
Aqui conta o episódio como aos 9 anos se deu conta da cultura escravocrata e dos comportamentos racistas, extremamente violentos e desumanos, que os colonos brancos tinham com o povo angolano e logo aí teve o seu primeiro ato político.
Esse seu olhar humanista, de olhar todos como iguais, acompanha-o desde aí.
Além de ter sido primeiro ministro do último governo do PS, o seu currículo é vasto e a sua vida tem histórias e momentos que não caberiam num só livro. E valiam uma longa série.
António Costa Silva foi estudante na Universidade de Luanda e militou nos Comités Amílcar Cabral e na Organização Comunista de Angola.
Nos tempos de faculdade, quando era mais conhecido por “Chíbias”, foi preso pelo MPLA e sofreu na pele a crueldade da guerra.
Durante três anos António Costa Silva foi severamente torturado na prisão de São Paulo, em Luanda, dia sim, dia não, passou por um simulacro de fuzilamento e, após duas greves de fome, foi libertado.
Como se sobrevive a isto tudo sem perder a esperança nos outros? O que o fez resistir a tanta tortura e violência infame? Essa experiência de quase morte, apurou-lhe o seu sentido de Justiça e a importância do respeito pelos Direitos Humanos? Todas estas questões são-lhe lançadas e as respostas surpreendem.
Durante esse tempo de cárcere e tortura, os pais de Costa Silva estavam em Portugal, não sabiam dele, julgavam-no morto.
O que faz lembrar o filme “Ainda estou aqui”, do realizador brasileiro Walter Salles, distinguido com um Óscar, sobre os horrores cometidos pelos regimes totalitários que descarregam a raiva e o ódio no corpo dos presos políticos. António Costa Silva faz esse mesmo paralelo.
De volta à liberdade, António Costa Silva inicia uma carreira na área dos petróleos, na Sonangol.
As sequelas da tortura, em particular a deterioração da visão, levam-no a procurar tratamento em Portugal e em Espanha. Licencia-se depois em Engenharia de Minas no Instituto Superior Técnico, completa um mestrado em Engenharia de Petróleos na Imperial College e por fim um doutoramento pelas duas faculdades.
Abreviando o longo percurso, António Costa Silva esteve muitos anos ligado ao mundo das empresas, na Presidência da Partex, empresa que foi da Fundação Calouste Gulbenkian. E é professor aposentado do Instituto Superior Técnico.
Autor de vários livros, acaba de publicar o romance “Desconseguiram Angola”, pela editora Guerra e Paz, no ano que marca os 50 anos da independência de Angola.
Um livro que ultrapassa o formato de romance, que tem um pouco de si e das suas memórias e ‘mambos’, que retrata a infâmia da guerra e a barbárie da desumanização, num país em que a própria realidade ultrapassa o cinema, em que a corrupção e a ganância pelo poder têm mais valor do que a vida humana, e em que o cheiro da cerveja se mistura com o cheiro das granadas.
Um livro atravessado pelo realismo mágico, visitado por um homem-jiboia, recheado de boa prosa, crítica e sarcasmo de primeira água, e sem ilusões, sobre um país esfomeado ou estropiado de esperança e utopia.
Em suma, um livro sobre o qual o próprio autor escreveu ser:// “um sonho perdido ou um pesadelo fútil ou uma loucura portátil.”
À boleia dessa obra, é-lhe pedido um olhar crítico sobre os 50 anos de independência em Angola, e sobre certos vícios e males do poder que se perpetuaram. E não é manso na resposta, deixando claro que o balanço é negativo.
Quanto a Portugal, num ano com 3 eleições à vista, e com as legislativas marcadas já para o próximo dia 18 de maio, Costa Silva reflete sobre estes ciclos governativos cada vez mais curtos, e estas sucessivas quedas de governo provocadas por denúncias anónimas e investigações tornadas conhecidas pelo Ministério Público?
Para onde vamos neste caminho? O que importa refletir e mudar? O que faz falta para acordar a malta de certos adormecimentos e da cabal importância do voto? É-lhe perguntado.
O único momento em que todas as pessoas são tratadas como iguais e têm o mesmo poder.
O que espera Costa Silva nestas eleições e o que deseja para o futuro do país?
Há quem preveja mais crescimento oportunista do populismo e da maior adversária das eleições, e também da própria democracia: A abstenção.
A Europa segue esta tendência e está a tentar lidar com a política Trumpista da América com a guerra comercial das tarifas, ou taxas alfandegárias, que estão a mexer com a estabilidade do mundo inteiro.
Que resposta deve dar a Europa a esta guerra de mundos?
António Costa Silva, um europeísta convicto, responde e fala do novo livro que sairá em Junho, a que chamou: “Portugal na Europa e com a Europa, que Futuro?”, pela Guerra e Paz.
E chega a deixar o alerta: “A Europa ou muda ou irá transformar-se num museu.” Para deoius assinalar o perigo da UE se fossilizar no tempo do mundo.
Como é que a Europa vai reagir apertada entre uma nova Administração Trump, que acelera a competição e a rivalidade estratégica com a China e aumenta o proteccionismo e as guerras comerciais, e uma China cada vez mais assertiva, autocrática, tecno-nacionalista, mas que depende da Europa para escoar a sua capacidade excedentária de produção?
Costa Silva responde e explica como acha que a Europa se deve posicionar para não ficar para trás.
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de José Fernandes. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.
A segunda parte desta conversa fica disponível na manhã deste sábado.