"A situação do partido é deveras preocupante. Tem, sim, membros descontentes que estão a protestar contra a atual liderança, não é segredo para ninguém, mas apelamos [a] um encontro para a reconciliação da família Renamo", disse André Magibire, em declarações à comunicação social na cidade da Beira, na província de Sofala, centro de Moçambique.

Em causa está a contestação à liderança de Ossufo Momade, que foi também candidato presidencial nas eleições gerais de 09 de outubro (nas quais ficou em terceiro lugar entre quatro candidatos), votação em que o partido perdeu o histórico título de maior partido da oposição para o Podemos, passando de 60 para 28 assentos no parlamento moçambicano.

A contestação à liderança de Ossufo levou militantes do partido, sobretudo antigos guerrilheiros da guerra civil dos 16 anos, a fecharem, por vezes à força, diversas delegações de partido em vários pontos do país, com episódios, em alguns momentos, de agressões.

"Não é segredo para ninguém o que está a acontecer (...), as delegações estão fechadas, em Manica, em Gaza e etc. Neste momento que estamos a falar temos 251 combatentes que nós não estamos a conseguir localizar, só porque as sedes estão encerradas", declarou o antigo secretário-geral da Renamo.

O partido anunciou, em 26 de fevereiro, o adiamento do Conselho Nacional previsto para 07 e 08 de março, sem avançar nova data para a reunião que devia analisar a situação política do país e do partido, conforme avançou o porta-voz, Marcial Macome.

Esta reunião era uma das exigências de vários membros e antigos guerrilheiros da Renamo, que nos últimos meses se manifestaram junto aos edifícios do partido em todo o país, exigindo a saída de Momade da liderança do partido.

O líder da Renamo obteve 5,81% dos votos na candidatura presidencial em outubro, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido.

Ossufo Momade, cuja liderança já tinha sido questionada em momentos anteriores, assumiu a presidência da Renamo após a morte do líder histórico e fundador do partido Afonso Dhlakama (1953--2018).

Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), foi eleito e tomou posse como quinto Presidente de Moçambique em 15 de janeiro.

Moçambique viveu uma guerra civil de 16 anos opondo o exército governamental e a Renamo, que terminou com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente, Joaquim Chissano, e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo. O acordo abriu espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.

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