A Unidade Local de Saúde (ULS) de São José abriu processos disciplinares aos médicos do caso da jovem de 25 anos que morreu no hospital Curry Cabral, em Lisboa, depois de um exame à vesícula.

"A ULS São José foi notificada no dia 20 de fevereiro de 2025 do despacho do Inspetor-Geral da IGAS e do relatório final do processo de inquérito a factos relacionados com a situação referida. (…) O Conselho de Administração desta ULS instaurou processos disciplinares nos termos da proposta formulada pela IGAS, estando a ser dado cumprimento ao despacho do Inspetor-Geral", lê-se numa nota da ULS à qual pertence o hospital.

A morte de Débora Peralta

A SIC teve acesso ao processo clínico e ao certificado de óbito de Débora Peralta, a jovem de 25 anos que morreu no Curry Cabral depois de ser submetida a um exame à vesícula.

Em julho de 2023, Débora Peralta começou a sentir dores de barriga cada vez mais fortes.

“Foi ao hospital, disseram que era a pedra da vesícula e disseram-lhe que tinha que fazer exames. No dia a seguir ligamos e a Débora nunca mais atendeu o telefone”, conta a mãe, Isabel Peralta, à SIC.

Quando a família consegue informações sobre o estado de saúde, Débora já estava sedada e entubada. Não voltou a acordar. Morreu seis dias depois, no hospital Curry Cabral, em Lisboa.

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Relatório de perito causou surpresa

Quase dois anos depois, a IGAS concluiu o inquérito ao caso, o que pode ajudar a que o processo avance na Justiça. As conclusões do perito, a que a SIC teve acesso, causaram alguma surpresa.

“Não estava à espera que a IGAS apontasse o dedo a tantos profissionais de saúde, alguns deles com muitos anos de profissão. Isso dá mais força à família para acreditar que vai ser feita Justiça”, diz a advogada da família, Ana Rita Cruz.

O que diz o relatório da IGAS?

São sete os médicos visados no relatório, incluindo um diretor de serviço.

Nas conclusões, a IGAS descreve que o especialista que fez o exame a Débora não voltou a contactá-la, nem procurou inteirar-se da situação clínica. Nem mesmo quando Débora acordou do exame a vomitar sangue.

Este profissional recusou que a hemorragia pudesse ter sido causada por uma perfuração do intestino. Outros profissionais foram entrando e saindo do serviço naqueles seis dias.

Para a IGAS, alguns dos médicos agiram "sob a forma omissiva, com grave negligência".

Uma das médicas, um dia após o exame, defendeu mesmo que a jovem não precisava de cirurgia. Opinião contrariada pelo relatório, que diz ainda que a profissional "saiu de serviço sem que manifestasse o menor interesse pela evolução da situação clínica".

A IGAS considera ainda que um diretor de serviço "agiu com negligência (...). Era imperioso que determinasse a ida para o bloco operatório o mais rapidamente possível".