
O Almirante Henrique Gouveia e Melo anunciou esta quarta-feira que será candidato à Presidência da República.
"A minha decisão é avançar com a candidatura à Presidência da República. Ela será anunciada formalmente no dia 29 de maio", garantiu o Almirante, em entrevista à Rádio Renascença.
Gouveia e Melo assegura que, caso seja eleito, pode contribuir com uma "visão estratégica" e de “forma muito decisiva para a estruturação da política a médio e longo prazo”.
Porque mudou de posição sobre a candidatura?
Questionado sobre o motivo que o levou a decidir candidatar-se depois de, no final de 2023, ter descartado essa hipótese, Gouveia e Melo afirma que “o mundo mudou bastante desde essa data” e dá os exemplos da guerra na Ucrânia e da eleição de Donald Trump como Presidente dos EUA.
“Nós estamos perante uma nova tentativa de edificação de uma ordem mundial que pode ser perigosa, ou nos pode afetar de forma significativa. E também, de alguma forma, alguma instabilidade interna que se tem prolongado. Tudo isso fez-me mudar de opinião”, explica.
“A minha forma de atuar será muito diferente do atual Presidente”
O Almirante afirma ser “muito diferente” de Marcelo Rebelo de Sousa, e deixa uma garantia: "Caso os portugueses considerem que eu tenho condições para ser Presidente da República, a minha forma de atuar será muito diferente do atual Presidente".
A propósito das eleições legislativas, Gouveia e Melo explica que o timing escolhido para o anúncio em nada carrega intenções políticas, mas admite ter a “expectativa de que os portugueses a escolham bem qual é a governação e o tipo de governação que querem para o futuro”.
“O tempo para o anúncio da minha candidatura começa a ser curto, porque preciso de enviar convites para a cerimónia. E portanto seria, como se diz, um segredo muito mal guardado. E pronto, tenho esta oportunidade para dizer de viva voz que vou verdadeiramente ser candidato”, conclui.
Um dos segredos menos bem guardados da política portuguesa sobre o qual se falava desde o verão de 2023 e que deixou hoje oficialmente de ser segredo.
Dois anos seguidos a liderar sondagens para a Presidência da República
Em setembro de 2023, uma sondagem SIC/Expresso apontava Henrique Gouveia e Melo como o nome preferido dos portugueses para ser o próximo Presidente da República. Segundo a sondagem, o Almirante era o mais popular entre o eleitorado de direita e à esquerda apenas António Costa o ultrapassava.
Um ano depois, uma nova sondagem voltava a atribuir o favoritismo na corrida presidencial a Gouveia e Melo, com uma vantagem de quase 6% face a Pedro Passos Coelho.
A mais recente, publicada em abril, colocou novamente o Almirante na ‘pole position’ para a eleição presidencial, com 62% dos inquiridos a escolherem Gouveia e Melo como candidato preferencial.
Gouveia e Melo, o “péssimo político” que vai entrar na corrida a Belém
O nome do Almirante ganhou notoriedade na fase crítica do combate à pandemia de covid-19 em Portugal. Gouveia e Melo coordenou, com destacado grau de sucesso, o plano nacional de vacinação.
Numa das primeiras declarações públicas sobre a hipótese de se candidatar à Presidência da República, o então vice-Almirante considerou que "daria um péssimo político" e que se sentia "perfeitamente realizado enquanto militar".
"Não sinto necessidade de dar [o meu contributo] enquanto político, primeiro porque não estou preparado para isso, acho que daria um péssimo político e também acho que devemos separar o que é militar do que é político, porque são campos de atuação completamente diferentes", afirmou, numa entrevista à agência Lusa em setembro de 2021.
Dois meses mais tarde, dizia estar focado na carreira militar, mas sem descartar a hipótese de uma candidatura presidencial. Gouveia e Melo sublinhava que ambos contribuem para a resolução dos problemas comuns e deixava no ar a possibilidade de vir a estar do outro lado.
Em março de 2023, numa entrevista exclusiva à SIC, o Chefe do Estado-Maior da Armada falou da liderança que encontrou à frente do Serviço Nacional de Saúde e admitiu que a necessidade que sentia em tomar decisões rápidas colidia, por vezes, com outros objetivos de cariz político.
Sobre uma eventual candidatura à Presidência, afirmou que a pergunta não trazia dissabores, por ser “legítima”.
Nove meses depois, em dezembro, rejeitava liminarmente a possibilidade de avançar enquanto candidato presidencial e dizia-se “indiferente” às sondagens que o colocavam no topo das intenções de voto.
“Eu já disse que não, espero que percebam o ‘não’ e não insistam na mesma pergunta 300 vezes”, afirmou.
Um ano e meio volvido, o sentido da ‘navegação’ presidencial virou 180 graus e, após meses de especulação sobre a continuidade ao leme da Armada, Henrique Gouveia e Melo irá mesmo avançar com uma candidatura a Belém.