
O cardeal Robert Francis Prevost tornou-se esta quinta-feira o sucessor de Francisco, adotando o nome de Leão XIV. É o primeiro Papa vindo dos Estados Unidos e o 267º líder da Igreja Católica. No seu primeiro discurso, sublinhou que “a humanidade precisa de luz”.
Antigo prefeito do Dicastério para os Bispos, tem opiniões próximas do Papa Francisco e passou muitos anos como missionário no Peru, antes de ser eleito chefe dos Agostinianos por dois mandatos consecutivos.
Francisco nomeou-o prefeito do Dicastério para os Bispos em janeiro de 2023, tendo ocupado o cargo, responsável pela seleção dos bispos, até à morte do Papa Francisco. A 30 de setembro de 2023, Francisco elevou-o à categoria de cardeal.
Formado em Matemática, Divindade e Direito Canónico
Nascido a 14 de setembro de 1955, em Chicago, no estado norte-americano do Illinois, Prevost entrou no noviciado da Ordem de Santo Agostinho em 1977.
A sua formação académica inclui uma licenciatura em Matemática, um mestrado em Divindade e ainda uma licenciatura e doutoramento em Direito Canónico – estes últimos feitos no Pontifício Colégio de São Tomás de Aquino, em Roma. Escreveu a sua tese de doutoramento sobre “o papel do prior local na Ordem de Santo Agostinho”.
Prevost fez os seus votos solenes em 1981. Depois da ordenação sacerdotal, integrou a missão agostiniana no Peru. Entre 1987 e 1988, foi pároco vocacional e diretor de missões da província agostiniana de Chicago, antes de regressar ao Peru, onde passou os 10 anos seguintes à frente do seminário agostiniano de Trujillo, a ensinar Direito Canónico no seminário diocesano.
Elevado a bispo em 2015 no Peru
Em 1999, voltou a Chicago e foi eleito prior provincial na arquidiocese da cidade. Dois anos e meio depois, foi eleito prior geral dos agostinianos e cumpriu dois mandatos até 2013. No ano seguinte, voltou ao Peru quando o Papa Francisco o nomeou administrador apostólico da diocese de Chiclayo, onde viria a ser elevado a bispo em 2015. Foi vice-presidente e membro do conselho permanente da Conferência Episcopal Peruana entre 2018 e 2023, e administrador apostólico de Callao em 2020 e 2021.
Durante esse período, os bispos do Peru terão desempenhado um papel importante na garantia da estabilidade institucional nas crises políticas que levaram à queda de sucessivos Presidentes, refere o site The College of Cardinals Report (CCR).
Ainda de acordo com este site, Prevost está muito próximo da visão de Francisco relativamente ao ambiente, à ajuda aos pobres e migrantes e à necessidade de ir ao encontro das pessoas onde elas estão. No ano passado, disse que “não é suposto o bispo ser um pequeno príncipe sentado no seu reino”. Apoiou a mudança do Papa Francisco na prática pastoral para permitir que os católicos divorciados – e os que voltaram a casar – recebam a Sagrada Comunhão.
Criticado – e defendido – por conduta em dois casos de abusos sexuais
Por duas vezes, a sua conduta em casos de abusos sexuais no seio da Igreja Católica foi alvo de críticas. O primeiro caso coincidiu com a altura em que esteve na Província Agostiniana de Chicago, quando um padre condenado por abuso sexual de menores foi autorizado a permanecer num convento agostiniano, perto de uma escola primária, e a continuar a exercer funções como padre até ser finalmente afastado. Os seus defensores garantem que Prevost não autorizou esta situação.
Mais recentemente, foram levantadas dúvidas sobre o seu conhecimento e a forma como lidou com as alegações de abuso na sua antiga diocese de Chiclayo. Dois padres foram acusados de abusar três raparigas, tendo as alegações sido tornadas públicas em abril de 2022, durante o mandato de Prevost como bispo.
Foi criticado por alegadamente ter encoberto o padre acusado, mas a diocese negou as críticas de forma veemente, assegurando que Prevost seguiu os procedimentos adequados e recebeu pessoalmente as vítimas. Não só esteve atento às presumíveis vítimas, como fez tudo o que a lei da Igreja exige quanto aos procedimentos a adotar nestes casos, garante quem o defende. Já este mês surgiram alegações de que a diocese pagou 150 mil dólares às três raparigas para as silenciar.
Prevost integrou sete dicastérios do Vaticano e a Comissão para a Governação do Estado da Cidade do Vaticano, o que, segundo o CCR, mostra como o Papa Francisco confiava no cardeal e valorizava as suas capacidades administrativas.