Numa entrevista exclusiva à SIC Notícias, o ex-banqueiro Álvaro Sobrinho - antigo presidente do BES Angola - admite sentar-se no banco dos réus se for notificado por Portugal. O ex-banqueiro está há três meses fora de Portugal e sem data para regressar, num altura em que o julgamento do caso BESA está prestes a começar em Lisboa.
O banqueiro angolano está prestes a ser julgado por 23 crimes de abuso de confiança e branqueamento de capitais. O dinheiro alegadamente desviado do BESA chegou aos 400 milhões.
"Nunca faltei a nenhuma notificação"
O julgamento do Processo BES Angola ainda não tem data marcada, mas a presença de Álvaro Sobrinho no banco dos réus permanece uma incógnita. Na entrevista à SIC Notícias, o ex-banqueiro garante que estará presente em Portugal nessa altura... mas para isso diz que precisa ser notificado.
"Eu nunca faltei a nenhuma notificação, mesmo estando no estrangeiro, junto da justiça portuguesa", frisa Álvaro Sobrinho.
"Eu tenho termo de identidade e residência desde 2011, não é desde 2022. Se houver necessidade de eu ser notificado para ir a Portugal, é claro que vou a Portugal! Mas para ir a Portugal tenho de ter um motivo e tenho de ser notificado e eu nunca fui notificado para ir a Portugal", acrescenta.
"Renunciei a nacionalidade portuguesa por uma bolsa de estudo"
A Investigação SIC descobriu que, em agosto, o antigo presidente do BES Angola foi retido no aeroporto de Lisboa e foi-lhe apreendido o passaporte depois de ter renunciado à nacionalidade portuguesa em 1984. No entanto, continuou a usar documentos portugueses até este ano.
À SIC, Álvaro Sobrinho esclarece que tem apenas uma nacionalidade - angolana.
Garante que nunca foi notificado e que só ficou a saber que tinha apenas uma nacionalidade no dia 11 de agosto deste ano, quando foi retido no aeroporto de Lisboa e lhe foi apreendido o passaporte.
Álvaro Sobrinho diz que, quando renunciou à nacionalidade portuguesa aos 22 anos, em 1984, fê-lo para obter uma bolsa de estudo - algo que não aconteceu.
"Pedi a renuncia da nacionalidade [portuguesa] para obter uma bolsa de estudo. Mas entretanto não consegui e o meu pai financiou tudo".
40 anos depois de ter renunciado à nacionalidade, Álvaro Sobrinho pediu 10 vezes documentos portugueses e com “máxima urgência”.
Questionado sobre quem pediu a sua certidão de nascimento, ao Instituto dos Registos e do Notariado, o ex-banqueiro diz desconhecer a entidade da pessoa em questão.
"Ir a Portugal investir? Nunca mais"
Questionado ainda sobre a natureza das suas viagens a Portugal e possíveis investimentos, o ex-banqueiro recusa voltar a investir em território nacional. Diz que o seu dinheiro é considerado "sujo" em Portugal.
"Não vou investir mais em Portugal, porque [meu] o dinheiro que entra [no país] é sempre sujo. Mesmo sendo considerado limpo em qualquer parte do mundo, aí em Portugal é sempre considerado sujo", afirma.
Álvaro Sobrinho diz ainda lamentar a falta de presunção de inocência associada ao seu nome.
"A minha presunção é de culpa. Eu já estou condenado por vocês. Só estou à espera dos anos de cadeia", concluiu.