"Conseguimos, através de dois projetos que já tínhamos em carteira, ir à última fase do PRR de obras", disse à Lusa o diretor-geral da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), Diogo Ramada Curto.

Neste momento, decorre a última revisão dos projetos. "Contamos nos próximos meses lançar a empreitada, que temos de executar até meados do ano que vem e vamos com isso recuperar, por um lado, o anfiteatro e, por outro, uma sala de reservados", onde se encontram livros raros e manuscritos, indicou o responsável.

Um milhão e cem mil euros é o valor do PRR destinado às obras no anfiteatro e na outra sala, mediante uma "pequena comparticipação" da biblioteca.

"Temos de cumprir, estamos empenhados nesse cumprimento", afiançou Diogo Ramada Curto, ao fazer contas aos prazos.

O anfiteatro, com acesso pelo exterior do edifício, será aberto à comunidade. A empreitada inclui o arranjo dos espaços adjacentes, há anos sem uso.

A BNP está também na fase de cumprimento de um PRR para conservação, digitalização e catalogação, no valor de sete milhões de euros.

"Tivemos esse impulso que nos foi dado pelo PRR e estamos numa boa fase de execução. Já foi digitalizado e estamos agora a avançar para a fase seguinte, que é fundamentalmente a disponibilização desse material", disse o diretor.

"Quando cheguei à biblioteca [em abril de 2024] tinham sido executados 11%. Neste momento, estamos em cerca de 60% e vamos cumprir com todo esse PRR", garantiu Diogo Ramada Curto.

A Biblioteca tem à sua guarda uma grande coleção de livros raros, além de toda a produção bibliográfica portuguesa atual, que se encontra no depósito legal, distribuída por 15 pisos.

As coleções especiais são constituídas por livros raros e antigos. "Temos a maior coleção de livros portugueses desde o século XV aos nossos dias (...) e uma das maiores coleções, senão mesmo, penso que é a maior, coleção de música antiga do país", destacou.

"São esses os tesouros que nós temos e estamos a procurar rendibilizar", disse.

As oficinas de restauro têm sido uma das principais preocupações na preservação do património à guarda da BNP, segundo Diogo Ramada Curto: "Um dos aspetos fundamentais essenciais é o do restauro, conservação, encadernação. Estamos particularmente empenhados. Temos uma equipa extraordinária ali. É uma equipa muito dedicada e estamos a dinamizar essas oficinas".

Nas oficinas da BNP restauram-se cartazes, livros impressos e manuscritos, num trabalho moroso, que exige minúcia e perícia.

Um restauro comum pode levar entre três semanas a um mês. Volumes raros, como manuscritos com pergaminho, couro e peças em madeira requerem, seis meses de atenção.

Um manuscrito do século XVII com estas características está agora entre as relíquias que aguardam intervenção na oficina.

Entre os tesouros da BNP estão também documentos de Fernando Pessoa encontrados depois da morte do poeta. "A chamada Arca do Fernando Pessoa está connosco, mas há muitos outros espólios que temos aqui e que vamos procurar disponibilizar criando plataformas digitais, que me parece ser o salto fundamental que estamos a tentar desenvolver", explicou o historiador.

"Estamos particularmente empenhados na criação de dois projetos piloto, o primeiro de uma camoniana digital e, em segundo lugar, na construção de uma pessoana digital", assegurou Diogo Ramada Curto.

O projeto relativo à obra de Luís de Camões está a ser desenvolvido em colaboração com a estrutura de missão para as comemorações do 5.º centenário do nascimento do poeta.

"Esperamos, em breve, ter resultados para apresentar dessa camoniana digital", avançou.

Os dois projetos darão uma nova visibilidade às coleções especiais que a BNP tem visto crescer, provenientes de espólios de escritores e intelectuais. "Vamos em cerca de 230 espólios", precisou o diretor-geral.