Alguns adeptos estarão a perguntar-se quem é João Simões, o médio de 17 anos em quem João Pereira apostou para ocupar a vaga dos lesionados Morita e Bragança, e que se tornou no terceiro leão mais jovem a estrear-se a titular na Liga dos Campeões, com 17 anos e 11 meses. Pois bem, A BOLA traça-lhe aqui o perfil do menino que não se amedronta com nada.
Natural de Portimão, foi no principal clube desta cidade algarvia que iniciou formação, antes de chegar à Academia Cristiano Ronaldo, em 2018. Desde então, tem sido aposta do Sporting nos vários escalões, e conta no palmarés com títulos de campeão distrital sub-12 e sub-15, de leão ao peito. Mas, nada melhor do que ouvir quem o recebeu como lateral-esquerdo e o trabalhou como médio centro. Fábio Roque foi treinador de João Simões nos sub-12 e sub-15.
João Simões tinha três minutos cumpridos na Champions no jogo com o Arsenal e, agora, com o Club Brugge somou mais 90. Nas estatísticas individuais apresentadas pela UEFA, os números do camisola 52 são impressionantes: 99% de eficácia no passe, 14 quilómetros percorridos e 32,28 km/h de velocidade máxima.
É um jogador muito inteligente, focado no que são os processos coletivos da equipa
«Não me surpreende nada, ele connosco também batia sempre os recordes de monitorização do GPS. Ele é superinteligente, tem uma capacidade de interpretação daquilo que os treinadores pedem altíssima, além de que pode jogar em várias posições. Não foi por acaso que se tornou médio centro de referência nacional, titular da Seleção, muitas vezes capitão, porque ele tem personalidade forte, é muito respeitador, mas não tem medo de nada», sublinhou Fábio Roque.
No último jogo, com o Club Brugge, foi perceptível isso mesmo, sem receios de rematar à baliza. «Sem dúvida, estava a ver o jogo e pensei nisso quando ele fez aquele remate que até não lhe saiu bem. Apesar de ser um jogador com chegada à área, a meia distância é uma coisa que ele ainda vai ter de conseguir melhorar e isso vai torná-lo num médio muito, muito completo», realçou.
Tem dimensão física muito elevada e capacidade de interpretação altíssima
João Simões era opção frequente de João Pereira na equipa B do Sporting e, por isso, a aposta do treinador no jovem foi segura, nada que tenha surpreendido Fábio Roque. «Quando soube da lesão do Morita e sabendo que o Maxi [Araújo] anteriormente já tinha jogado a médio centro, fiquei ali na dúvida porque não sabia se o João ia jogar a extremo ou a médio centro, mas fiquei descansado porque sabia que ele podia estar nervoso ou mais ansioso, mas ia dar a resposta necessária», disse.
HJULMAND É FAROL NO MIOLO
O momento do Sporting em que João Simões se estreia não é o melhor, com a equipa a enfrentar quatro derrotas consecutivas, mas Fábio Roque acredita que isso não o desmotivará: «É diferente a integração dele, da integração, por exemplo, do Dário Essugo, que foi um jogador que entrou numa perspetiva em que a equipa estava a vencer e não foi titular, no caso do João teve de assumir, mas sabendo da maturidade e capacidades dele, sei que vai agarrar todas as oportunidades que tiver. Estou muito feliz por ele, é um miúdo que merece, muito humilde, companheiro e muito sério em tudo o que ele faz.»
Certo é que João Simões cumpriu os 90 minutos com o Club Brugge na Liga dos Campeões e tudo indica que vá repetir a dose amanhã, na receção ao Boavista, num teste de fogo para João Pereira, e terá no capitão Hjulmand um farol no miolo. «Sim, viu-se que o João olhava muitas vezes para ele e o Hjulmand comandava-o, acho que essa é a junção perfeita, ter ali ao lado alguém em quem ele possa também confiar e que o possa guiar em certos momentos do jogo», concluiu Fábio Roque.
ALUNO DE EXCELÊNCIA E GRANDE CONSELHEIRO
No capítulo mais pessoal, Fábio Roque contou a A BOLA que João Simões «sempre foi um muito bom aluno, muito responsável». E aos olhos dos companheiros um exemplo: «Ele era a quem muitos iam pedir conselhos sobre assuntos mais sérios, era com o João que eles iam falar.»
AMIZADE SÓLIDA COM OUTRA PROMESSA: QUENDA
A estreia de João Simões pela equipa principal do Sporting, no jogo da Taça de Portugal com o Amarante, naquele que foi o primeiro jogo da era João Pereira no comando técnico, foi motivo de orgulho para o grande amigo Quenda, que partilhou nas redes sociais a fotografia acima. «Eles têm uma grande ligação. Sabem o quão difícil é chegar ao contexto da equipa A e, por isso, quando acontece, o sentimento de todos - jogadores, treinadores e estrutura - é de enorme orgulho e felicidade», realçou Fábio Roque.
MUITA MATURIDADE PARA QUEM SÓ TEM 17 ANOS
João Simões tem apenas 17 anos, mas quem com ele convive facilmente esquece isso. «Conheço-o há muitos anos, aí por volta dos sub-10 ou 11, mas lembro-me que nas viagens que fazíamos o nível e a capacidade das conversas que tínhamos - e depois, já nos sub-15 - era quase já um adulto e isso reflete-se no campo», recordou Fábio Roque.
SUPORTE FAMILIAR E GRANDE PAIXÃO PELO SPORTING
O antigo treinador do jovem revelou, ainda, um facto muito importante no percurso de João Simões: «O contexto familiar dele é muito favorável, são pessoas que se preocupam muito em que ele seja feliz e sempre se preocuparam mais com isso do que com qualquer outra coisa». No jogo com os belgas, o camisola 52 festejou efusivamente o golo de Catamo: «A paixão pelo Sporting é tão grande que acaba por extravasar esse sentimento. Ele sabe do carinho que o clube sempre lhe deu e ele não se fica atrás e retribui com tudo o que tem. »