O cronograma não previa uma especial demora. Após as boas-vindas, e já que os dez pontos da ordem de trabalhos não iam acender uma alongada arguição, menos de duas horas depois do início do Congresso Extraordinário da FIFA foi possível os representantes das federações desligarem as webcams e rumarem à execução de outra tarefa dos seus agitados dias.
Os assuntos em questão até tinham potencial loquaz, não fossem as decisões sobre eles estarem tomadas à partida. Tanto é que o congresso não justificou uma reunião em Zurique de todos os representantes dos membros da FIFA ou outra qualquer aparatosa cerimónia. Uma videochamada foi mais do que suficiente para entregar a organização do Mundial 2030 e do Mundial 2034.
Cada uma das edições da prova chegava a este momento apenas com uma candidatura. Não sendo muitas as opções, assumia-se como certo que Portugal, Espanha, Marrocos, Argentina, Uruguai e Paraguai ficariam com o Mundial de 2030 e a Arábia Saudita, mesmo com arrelias aos direitos humanos, com a seguinte edição do torneio. Apenas a Noruega e a Suíça se queixaram da falta escolhas, denotando “preocupações” com um processo não “alinhado com os princípios da FIFA”, como expressou a nota entregue pelo país nórdico.
Tratou-se de uma inevitabilidade que as duas candidaturas fossem validades e, agora sim, Portugal pode gabar-se de ser pela primeira vez anfitrião de um Mundial após “dois anos exigentes e desafiantes” que culminaram numa avaliação (4,2 em 5, a mesma nota que a sugestão saudita) que “orgulha” o ainda presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes. A proposta com toque luso, que implica a utilização de três estádios (Luz, Alvalade e Dragão), é “diversa, multicultural, intercontinental” e está preocupada em “cuidar” do futebol de modo a manter “a sua essência, mas a acompanhar os novos tempos”.
O sufrágio foi feito através de palmas, aquilo a que Infantino chamou de “voto por aclamação”. Nos quadrados projetados atrás do presidente da FIFA, os chocalhos virtuais das mãos dos líderes do futebol mundial deixaram a perceção dos medidores de decibéis que os seres humanos têm nas laterais da cabeça validar a responsabilidade de dois dos eventos mais importantes do planeta. Talvez seja a isto que chamam sexto sentido.
Também a Arábia Saudita viria a ouvir boas notícias, cumprindo um sonho em comum com a FIFA. Mesmo tudo aponte para que talvez não fosse boas ideia, o Mundial voltará ao Médio Oriente sem qualquer salvaguarda quanto ao cumprimento de direitos humanos.
Gianni Infantino tinha já preanunciando um “histórico momento”, em que o futebol ia ser capaz de “unir o mundo quando mais ninguém o faz”. O presidente da FIFA ia engolindo os vários pontos da ordem de trabalhos enquanto conduzia os mesmos com a ajuda do secretário-geral, Mattias Grafstrom. Os líderes da instituição alternavam as intervenções como se os assuntos que abordavam não dissessem respeito a ninguém que estivesse para lá da virtualidade que os protegia. De facto, o modo como tudo se processou talvez se tenha inspirado num mundo à parte.