Adaptação de um artigo publicado em junho de 2022.

Ao longo dos últimos anos, o nome «Chéquia» tem surgido de forma cada vez mais regular, tendo vários portugueses chegado a esse termo pela via do futebol. À medida que a estreia no Euro se aproxima, as perguntas começam a aparecer e há até quem fique indignado quando surgem artigos nos jornais com o nome «Chéquia» em vez do já tradicional «República Checa». A pergunta mais habitual é, simplesmente, «porquê?»

O zerozero foi procurar as respostas e explica-lhe tudo aqui, para que decida qual dos nomes vai usar. Até porque esta terça-feira, esperamos nós, será preciso falar da vitória portuguesa sobre este adversário! Mas, afinal, que país? República Checa? Chéquia? Checoslováquia? Bohemia?

Uma pequena aula de história

Comecemos por uma breve contextualização dos factos. No início da história do país, a parte checa da Checoslováquia começou por ser conhecida por Bohemia, devido à tribo celta que por lá habitava, os Boii. No entanto, a zona que acabava por fazer fronteira entre a parte checa e a parte eslovaca era composta por outros dois territórios, a Moravia, devido ao rio Morava, e a Silesia (alegadamente nomeada desta forma devido a uma família alemã que vivia na zona).

À medida que os anos foram passando, em 1867, a zona checa e a zona eslovaca tornaram-se parte do Império Austro-Húngaro, composto por mais dez países. Esse império acabou por colapsar em 1918, na sequência da Primeira Guerra Mundial.

Manifestação em Praga @Getty /
A partir desse momento, nasceu a nação da Checoslováquia, independente até 1939 e depois tomada pela Alemanha, após a assinatura do Acordo de Munique, ou, como é conhecido pelos checos, a «Sentença de Munique», uma vez que não foi convocado nenhum representante checo para a conferência. Apesar de o acordo determinar que apenas uma parte da Checoslováquia pertencia à Alemanha, Hitler acabou por desrespeitar o tratado, invadir o resto da Checoslováquia e assumir o controlo da cidade de Praga.

Após a Segunda Guerra Mundial, a Checoslováquia voltou a assumir um estatuto de independência que não durou muitos anos. Os checoslovacos acabaram por fazer um tratado amigável com os soviéticos, mas, em 1945, os comunistas acabaram por tomar conta do país. Durante esse período, a nação voltou a mudar de nome e passou a ser conhecida como «República Socialista da Checoslováquia».

Panenka levou a Checoslováquia à conquista do Euro em 1976
Essa nação esteve sob o controlo soviético durante mais de 40 anos, mas em 1989 o descontentamento dos habitantes da Checoslováquia provocou uma revolução que ficou conhecida como «A Revolução de Veludo», por, alegadamente, ter sido feita de forma pacífica e sem mortes a registar.

Vaclav Havel tornou-se no primeiro presidente após o regime comunista, acabando por liderar o país para nova mudança de nome - República Checa e Eslovaca -, algo que durou apenas três anos. Entre 1990 e 1993, as duas nações continuaram unidas, até ao momento do «Divórcio de Veludo». As diferenças entre os dois países eram cada vez mais evidentes, pelo que ambos acabaram por optar pela separação para o melhor interesse das duas partes.

A 1 de janeiro de 1993, pela primeira vez na história, os dois países são conhecidos oficialmente e de forma separada como República Checa e Eslováquia.

Pelos últimos parágrafos já percebeu que Bohemia e Checoslováquia são denominações erradas para o adversário de Portugal, mas e as outras duas situações?

República Checa ou Chéquia?

Depois de toda esta contextualização e explicação para as constantes mudanças de nome, talvez fique desiludido quando perceber que a explicação para o nome Chéquia é muito mais simples do que parece.

Provavelmente, quando era criança, jogou futebol, brincou ou conheceu outra criança com um nome mais comprido ou até complicado de dizer. Por exemplo, Guilherme. Pouco tempo depois, é provável que tenha decidido chamar-lhe «Gui». Foi isso que aconteceu com a República Checa.

Celebrações checas após A Revolução de Veludo @Getty / Peter Turnley
Para simplificar, o presidente Miloš Zeman apresentou uma proposta para que o nome abreviado da República Checa fosse oficialmente «Chéquia», à semelhança do que acontece com outros países que são conhecidos por esse nome, como a República Portuguesa, normalmente conhecida simplesmente como Portugal.

Esta medida foi aprovada a 15 de abril de 2016 e, a partir daí, várias instituições, desde a ONU, à União Europeia, e marcas, como a Google e a Apple, passaram a reconhecer de forma oficial a República Checa como Chéquia.

No entanto, ao contrário do que pensava o presidente Miloš Zeman, o nome «Chéquia» acabou por não ser chamativo o suficiente para conseguir afirmar-se de forma evidente, pelo que muitos ainda recorrem ao nome República Checa quando se referem ao país.

Na verdade, o nome em inglês até já gerou alguma confusão. Por exemplo, quando um jornalista da CNN norte-americana se referiu aos bombistas da Maratona de Boston como «tchechenos [chechen, em inglês], vindos da Chéquia [Czechia, em inglês]», algo que levou a que o embaixador da Chéquia em Washington, Peter Gandalovic, viesse a público corrigir o erro do repórter.

Portanto, resumindo tudo isto, se é daqueles que diz Chéquia, saiba que não está errado. No entanto, se ainda não conseguiu deixar para trás o nome República Checa, saiba que não só também não está errado, como está longe de ser o único. Ambos estão corretos, embora, numa questão de coerência, faça mais sentido chamar Chéquia ao país, isto deduzindo que também diz «Portugal» quando se refere à República Portuguesa.

Caso seja ainda mais extremo e prefira referir-se ao país da mesma forma que os habitantes da Chéquia (ou República Checa), também pode dizer Česká Republika [República Checa] ou Česko [Chéquia], mas calculamos que tenha algumas dificuldades em pronunciar estas palavras.