Mais de 70 aviões e navios chineses estão esta quarta-feira dispostos em torno de Taiwan, informaram as autoridades de Taipé, no âmbito de um importante destacamento naval chinês no Pacífico, que Pequim ainda não anunciou.

Na reação a estes movimentos, Taiwan instou Pequim a "parar imediatamente" com as "intimidações militares e todos os comportamentos irracionais que põem em perigo a paz e a estabilidade regionais".

Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan denunciou o "envio intensivo" de aviões e navios de guerra para assediar a ilha.

A mesma nota considerou que as ações das Forças Armadas chinesas "minam a paz e a estabilidade no Estreito [de Taiwan], aumentam injustificadamente as tensões na região e perturbam o comércio e a navegação internacionais".

Segundo Taipé, o destacamento do Exército chinês, que não foi anunciado por Pequim, envolve mais de 70 aviões e navios chineses, dispostos nas proximidades de Taiwan e ao longo da primeira cadeia de ilhas, um conceito estratégico que normalmente se refere à linha que vai das ilhas Kuril, passando pelo Japão, Taiwan e Filipinas.

"As ações de provocação da China contra o nosso país e outros países da região violam claramente a Carta das Nações Unidas, que proíbe qualquer nação de utilizar a força ou ameaças para infringir a soberania territorial de outro país."

Taipé exortou Pequim a "pôr imediatamente termo a estas violações do direito internacional e a assumir as responsabilidades de uma potência responsável".

A declaração foi feita pouco depois de o Ministério da Defesa Nacional de Taiwan ter relatado um aumento da atividade militar chinesa em torno da ilha, detetando um total de 53 aviões chineses, 11 navios de guerra e oito "navios oficiais", nas últimas 24 horas.

Nos últimos dias, a China tem estado em silêncio face ao que Taipé descreve como uma demonstração de poder militar, com vários navios da marinha e da guarda costeira chinesas a navegar numa área de aproximadamente mil quilómetros, que se estende de Xangai (leste) à província de Fujian (sudeste).

Pequim intensificou atividades militares em torno de Taiwan desde maio

Nas duas últimas manobras militares em torno de Taiwan, que tiveram lugar a 23-24 de maio e a 14 de outubro, Pequim anunciou publicamente o início e o fim dos exercícios, mas neste caso o silêncio foi absoluto, limitando-se a declarar sete zonas aéreas reservadas em frente às províncias de Zhejiang (leste) e Fujian.

Segundo Taipé, as forças chinesas criaram duas 'muralhas' navais no oceano: uma a leste da ADIZ de Taiwan e outra no interior do Pacífico Ocidental, com o objetivo de reafirmar a soberania chinesa sobre o Estreito de Taiwan e intimidar os países da região.

"Em comparação com exercícios militares anteriores, a escala deste exercício é diferente em muitos aspetos (...) A China não está apenas a conduzir operações em torno de Taiwan, mas está também a tentar isolar a região, estendendo as suas forças militares para o exterior", disse o vice-diretor dos serviços secretos do ministério da Defesa, Hsieh Jih-sheng, em conferência de imprensa.

O destacamento naval surge poucos dias depois de o presidente de Taiwan, William Lai Ching-te, ter concluído uma digressão pelo Pacífico Sul com visitas aos três aliados de Taiwan na região - as Ilhas Marshall, Tuvalu e Palau - e escalas nos territórios norte-americanos do Havai e Guam, o que irritou a China.

Na sequência da tomada de posse de Lai, em 20 de maio, Pequim intensificou as suas atividades militares em torno de Taiwan: mais de 3.400 aviões militares chineses sobrevoaram Taiwan desde então, dos quais 2.366 atravessaram a linha divisória do Estreito ou violaram a autoproclamada ADIZ de Taiwan, mais 38% do que em todo o ano de 2023, de acordo com os últimos dados do ministério.


Com Lusa