
O ex-líder da IL Rui Rocha considerou hoje que deixa o partido com "total autonomia" política, estratégica e financeira e afirmou que nunca foi "moderado na defesa dos interesses" liberais.
Num discurso na X Convenção Nacional da IL, em Alcobaça, o ex-líder da IL fez um balanço dos seus dois anos à frente do partido, elencando propostas que foram apresentadas na área da saúde, habitação, impostos ou da reforma do Estado.
Em termos eleitorais, Rui Rocha salientou que, durante a sua liderança, a IL passou a ter "representação em todos os parlamentos" e obteve o "melhor resultado de sempre" nas eleições europeias.
"Estes resultados, e o caminho que foi feito, permitem à IL assentar hoje a sua visão estratégica para o futuro em total autonomia política, total autonomia estratégica e total autonomia financeira", defendeu.
Apesar disso, Rui Rocha referiu que, nas últimas eleições legislativas, tinha fixado dois objetivos -- reforçar a votação e "reforçar a influência da IL na governação" --, reconhecendo que ambos "não foram cumpridos" e que, em três eleições consecutivas, o partido ficou sempre com um resultado à volta dos 5%.
"Portanto, neste momento, depois de três eleições a 5%, só há duas possibilidades: ou o teto é do partido, ou o teto é do presidente. Só há uma maneira de sabermos, é o presidente dar um passo ao lado e permitir que o partido prove que vale muito mais do que esses 5%", afirmou.
Abordando a sua demissão da presidência do partido, em 31 de maio, Rui Rocha disse que foi uma "decisão política" e não pessoal, afirmando ainda que as críticas que "vozes relevantes" do partido fizeram sobre os resultados eleitorais -- numa alusão a João Cotrim Figueiredo -- foram "absolutamente irrelevantes nessa tomada de decisão".
Rui Rocha abordou ainda as críticas internas que consideram que foi um líder "moderado" -- numa alusão às críticas de excessiva aproximação ao PSD --, afirmando que, durante a sua presidência, não foi "moderado na defesa dos interesses do partido".
"Quando recusei coligações pré-eleitorais e quando recusei ir para o Governo, porque não troco ideias por cargos. (...) Fomos fortemente pressionados para fazer uma coligação eleitoral em que nos dávamos aquilo que quiséssemos, e eu disse que não. Nunca fui moderado na defesa dos interesses do partido", disse.
Rui Rocha afirmou que nunca quereria que a IL tivesse "10, 15, 30 deputados para, no dia seguinte", aprovarem uma privatização de 49% do capital da TAP, numa alusão ao processo de privatização da companhia aérea que está a ser conduzido pelo Governo.
"Se António Costa, se Pedro Nuno Santos são as caras deste negócio ruinoso de que estamos a falar, as caras desse negócio ruinoso são também José Luís Carneiro, Luís Montenegro e André Ventura, que querem manter tudo igual ao que estava", frisou.
Depois de fazer este balanço, Rui Rocha quis deixar três sugestões para o futuro do partido, começando por pedir que se faça um "combate ao chatismo", referindo-se aos "chatos no partido" que fazem "15 mensagens seguidas nos 'chats'".
Outra sugestão de Rui Rocha é que o partido combata igualmente o "sebastianismo", numa alusão aos pedidos de militantes da IL para que ex-líderes, como Carlos Guimarães Pinto ou João Cotrim Figueiredo, se voltem a candidatar à presidência partido quando há trocas de liderança.
"Darei o meu contributo para o combate ao sebastianismo, manifestando aqui, publicamente, que não tenho disponibilidade para qualquer tipo de função em órgãos de partido, atividade ou qualquer outra coisa, a menos que aconteça uma desgraça, o que manifestamente nem prevejo, nem desejo", disse.
No final, Rui Rocha disse que, como ex-líder, irá procurar "respeitar os interesses do partido", procurando conter as críticas, e estará disponível "para os combates que forem necessários", sobretudo aqueles em que não tiver "nenhum proveito pessoal".
Rui Rocha defende liberdade no parlamento dando razão tanto aos que chamam "frouxo" como "fanfarrão"
O presidente cessante da Iniciativa Liberal defendeu ainda mais liberdade de expressão no parlamento, defendendo que tanto quem falou em "fanfarrão" como em "frouxo" tem razão.
Na intervenção perante a X Convenção da IL, Rui Rocha criticou "o que se pode e não pode dizer na Assembleia da República", aludindo a "uma discussão infindável" a que assistiu esta semana no parlamento.
"Temos agora uma formulação que diz que se as palavras forem ditas em relação a comportamentos são aceitáveis", mas se "forem diretamente às pessoas, não são", afirmou na X Convenção do partido, em Alcobaça, chamando a atenção para "o grau de filigrana que estamos a construir para chegar a uma conclusão que devia ser a primeira: liberdade de expressão".
Para o presidente da IL, cabe à população avaliar "a liberdade que cada um usa e como usa", defendendo que tem que haver "liberdade de expressão no parlamento também".
"E já agora", disse, perante os congressistas: "Deixem-me dizer-vos, também, que quando de um lado se diz que uns são fanfarrões e que do outro lado são frouxos, ambos têm razão, ambos estão a dizer a verdade, é importante que haja liberdade de expressão".
Rui Rocha lembrou ainda os três critérios essenciais para as coligações para as eleições autárquicas: "que seja para vencer, que seja para mudar a vida das pessoas e que essas coligações sejam feitas com pessoas com ética inabalável."
"Estou convencido que são bons critérios que agora deixo" disse.
O presidente da mesa da Convenção e do Conselho Nacional do partido, Pedro Ferreira, fez uma intervenção de abertura em que considerou a reunião de hoje em Alcobaça é uma "oportunidade histórica" para os liberais, para que também possam "aprender com os erros".
"Se calhar afastamo-nos demasiado das bases", apontou, reconhecendo "lógicas de gabinete" e que "é preciso contacto com as pessoas".
"A Iniciativa Liberal tem de ser um espelho do país que queremos construir, aberta, mobilizadora, meritocrática", defendeu Pedro Ferreira, pugnando por um partido que recuse "a lógica dos caciques e dos aparelhos" que critica nos outros.
A Iniciativa Liberal realiza hoje a sua X Convenção Nacional com 985 militantes inscritos que deverão eleger Mariana Leitão como próxima líder do partido, sucedendo a Rui Rocha, que ocupava o cargo desde 2023.