As pegadas foram deixadas na lama por duas espécies diferentes "numa questão de horas, ou no máximo dias", apontou a paleontóloga Louise Leakey, coautora da investigação publicada na quinta-feira na revista Science.

Os cientistas já sabiam, a partir de registos fósseis, que estes dois ramos extintos da árvore evolutiva humana - chamados Homo erectus e Paranthropus boisei - viveram quase ao mesmo tempo na Bacia de Turkana.

Mas a datação dos fósseis não é exata. "São alguns milhares de anos para mais ou para menos", destacou o paleontólogo William Harcourt-Smith, do Lehman College e do Museu Americano de História Natural de Nova Iorque, que não esteve envolvido no estudo.

No entanto, com as pegadas fósseis, "há um momento real preservado. É uma descoberta incrível", frisou.

Os rastos de pegadas fósseis foram descobertos em 2021 no que é hoje Koobi Fora, no Quénia, contou Leaky, que trabalha na Universidade Stony Brook, em Nova Iorque.

Quer os dois indivíduos tenham passado pelo lado oriental do Lago Turkana ao mesmo tempo - ou com um ou dois dias de diferença - provavelmente sabiam da existência um do outro, vincou Kevin Hatala, coautor do estudo e paleoantropólogo da Universidade Chatham, em Pittsburgh.

"Provavelmente viram-se, provavelmente sabiam que estavam lá e provavelmente influenciaram-se um ao outro de alguma forma", destacou.

Os cientistas conseguiram distinguir entre as duas espécies devido à forma das pegadas, que contêm pistas sobre a anatomia do pé e como está a ser utilizado.

O Homo erectus parecia andar de forma semelhante à forma como os humanos modernos andam, batendo primeiro com o calcanhar no chão, depois rolando o peso sobre a planta do pé e os dedos dos pés e empurrando novamente.

A outra espécie, que também andava de pé, movia-se "de uma forma diferente de qualquer outra que já tínhamos visto antes, em qualquer outro lugar", garantiu a coautora Erin Marie Williams-Hatala, anatomista evolucionista humana em Chatham.

Entre outros detalhes, as pegadas sugerem mais mobilidade no dedo grande do pé, em comparação com o Homo erectus ou com os humanos modernos, sublinhou Hatala.

Os antepassados primatas comuns provavelmente tinham mãos e pés adaptados para agarrar ramos, mas com o tempo os pés dos antepassados dos humanos evoluíram para permitir andar ereto, recordaram os investigadores.

O novo estudo acrescenta-se a um crescente corpo de investigação que implica que esta transformação para o bipedismo - andar sobre dois pés - não aconteceu num único momento, de uma única forma.

Em vez disso, pode ter havido uma variedade de formas pelas quais os primeiros humanos aprenderam a andar, correr, tropeçar e escorregar em encostas lamacentas pré-históricas.

"Acontece que existem diferentes mecânicas de marcha - diferentes formas de ser bípede", acrescentou Harcourt-Smith.

 

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