O Presidente francês, que falou esta quinta-feira ao país depois de o Governo ter caído, garante que não se vai demitir e adianta que vai nomear o primeiro-ministro “nos próximos dias”.
Num discurso aos franceses às 20:00, hora local, 19:00 em Lisboa, o chefe de Estado agradece o trabalho de Michel Barnier, que apresentou esta quinta-feira de manhã a demissão.
“Quero agradecer a Michel Barnier pelo trabalho que tem realizado no nosso país, pela sua dedicação e pela sua combatividade”, afirma.
Macron acusa a extrema-direita e a extrema-esquerda de se unirem numa “frente anti-republicana” ao votarem a favor da moção de censura. “Eles não querem construir. Não estão a pensar em vocês, nas vossas vidas. Só pensam nas presidenciais, para as precipitar, com cinismo e com desejo de caos”, refere.
“Só pensam numa coisa: nas eleições presidenciais, em prepará-las, em provocá-las, em apressá-las”.
Macron afasta demissão
O Presidente, na declaração transmitida na televisão, deixa uma garantia: vai ficar na Presidência “até ao fim”.
“O mandato que me confiaram democraticamente é de cinco anos e irei exercê-lo até ao fim”, garante.
Apesar da pressão para se demitir, Emmanuel Macron destaca que tem a responsabilidade de garantir a “continuidade do Estado e o bom funcionamento das instituições”.
“Temos 30 meses pela frente até ao final do mandato que me foi confiado”, sinaliza.
Primeiro-ministro nomeado “nos próximos dias”
Quanto ao novo primeiro-ministro, irá nomeá-lo “nos próximos dias”.
"Vou nomear um primeiro-ministro nos próximos dias. Vou pedir a essa pessoa que crie um governo de interesse nacional. Esse primeiro-ministro irá formar um governo unido ao vosso serviço, diz Emmanuel Macron.
A prioridade do próximo executivo será o Orçamento do Estado, sinaliza.
Os nomes apontados como mais prováveis para suceder a Barnier são Sébastien Lecornu (ministro da Defesa), François Bayrou (antigo candidato presidencial) e Bruno Retailleau (ministro do Interior).
Embora a moção de censura tenha deixado França sem orçamento para 2025, o Presidente garante que vai ser apresentada “antes de meados de dezembro” uma lei especial de finanças para a “continuidade dos serviços públicos”.
O chefe de Estado apela ainda à “reconstrução da Nação”. Macron quer restaurar a “sabedoria” onde houver raiva" e “unidade” onde houver “divisão”.
Porque caiu o Governo?
Macron está impedido de convocar novas eleições antes de julho de 2025, uma vez que dissolveu a Assembleia Nacional em junho deste ano.
A moção de censura ao Governo francês foi anunciada depois de ter sido apresentado o orçamento da Segurança Social para 2025, que o chefe do Executivo francês decidiu adotar sem votação parlamentar.
A decisão do primeiro-ministro Michel Barnier foi tomada após vários dias de negociações com a extrema-direita de Le Pen, a quem fez várias concessões, mas que não convenceu totalmente.
Barnier cedeu em três das quatro "linhas vermelhas" traçadas pela líder da extrema-direita: eliminou um imposto sobre a eletricidade, cortou a ajuda médica aos imigrantes ilegais e manteve os subsídios a vários medicamentos.
No entanto, recusou aplicar a última imposição - o adiamento do aumento das pensões por meio ano para contrariar a inflação.
Nessa altura, Barnier já tinha tomado a decisão de avançar sem votação parlamentar, mesmo que isso colocasse o seu Governo à mercê de uma moção de censura.
O primeiro-ministro, Michel Barnier, apresentou esta manhã a sua demissão ao Presidente, que a aceitou e lhe pediu que continuasse a tratar dos assuntos correntes até que seja nomeado um substituto.
A moção de censura que fez cair o Executivo francês foi apresentada pela esquerda e conseguiu 331 votos favoráveis, com o apoio da extrema-direita de Marine Le Pen.