"Queremos passar uma mensagem de reconciliação e paz, mas também queremos repudiar esta questão de violação de direitos humanos ", declarou à Lusa o músico moçambicano Stewart Sukuma à margem do evento, realizado na avenida 10 de Novembro, uma das principais da capital moçambicana.
O evento, antecedido por um minuto de silêncio pelas vítimas dos confrontos entre a polícia e manifestantes que protestam contra os resultados eleitorais, foi marcado por apresentações diversificadas, entre música, poesia e pintura.
O movimento, designado "L.U.T.O POR MOZ", surge no contexto das manifestações pós-eleitorais em Moçambique, que, muitas vezes, resultaram em confrontos com um saldo de mais de 100 mortos e cerca de 300 feridos, segundo um balanço atualizado pela Organização Não-Governamental (ONG) Plataforma Eleitoral Decide.
"Nós estamos em pleno caos neste momento e acho que agora missão é minimizar os danos que podem ainda acontecer (...) Neste caso, eu acho que o Governo tem de estar preparado porque tem uma responsabilidade muito grande. Deve estar preparado para ceder também. Deve haver cedências dos dois lados. O que vejo é que ao longo destes anos todos a intolerância foi que mais cresceu", acrescentou Sukuma.
Desde dísticos de repúdio à violência a canções de liberdade, incluindo o hino nacional, entre música e poesia, o apelo ao diálogo esteve sempre presente nas manifestações artísticas na avenida 10 de Novembro.
"Queremos sim a paz e o diálogo. Um diálogo entre o Governo e os manifestantes talvez resolva o problema", declarou à Lusa a poetisa moçambicana Énia Lipanga.
Para o ator Alvin Cossa, o movimento dá corpo à ideia da arte como meio para chamar à consciência a sociedade, numa altura em que o país está sob "forte tensão".
"O país está sob forte tensão e esse gaguejar no pronunciamento das instituições envolvidas no processo eleitoral em si cria essa instabilidade (...) Não sabemos exatamente o que se espera. Em eleições que temos estado a assistir no mundo, dois dias depois, todo mundo sabe quais são os resultados e em Moçambique não. Estamos a mais de dois meses, ainda estamos à procura de editais", declarou Alvin Cossa.
Moçambique vive desde 21 de outubro sucessivas paralisações e manifestações de contestação dos resultados das eleições gerais de 09 de outubro, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Os resultados das eleições de 09 de outubro anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) deram a vitória, com 70,67% dos votos, a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder, e colocaram Venâncio Mondlane em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Num dos seus últimos diretos a partir da rede social Facebook, Mondlane prometeu estar em Maputo para tomar posse como Presidente de Moçambique no dia 15 janeiro, data prevista para a tomada de posse do novo chefe de Estado.
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